Furtos de fios causam prejuízo de mais de R$ 26 milhões e afetam milhares de brasileiros
Só em 2024, mais de 100 toneladas de fios foram furtados em 15 mil casos

Marco Pagetti
Os furtos de cabos de energia elétrica crescem em diversas regiões do país, provocando interrupções no fornecimento de energia e internet, além de causar prejuízos milionários para empresas e consumidores.
Somente em 2024, mais de 100 toneladas de fios foram furtadas, resultando em R$ 26 milhões em perdas para as distribuidoras, segundo dados da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).
Ao longo do ano passado, foram registrados mais de 15 mil casos de furtos de cabos de energia em todas as regiões do Brasil. Apenas em São Paulo, foram 5.029 furtos e roubos de fios em janeiro deste ano, com uma média de 40 ocorrências por dia na capital paulista.
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A concessionária Enel, responsável pelo fornecimento de energia em 24 cidades do estado, disse que conseguiu reduzir os furtos em 23% em 2024 ao investir em sensores, alarmes e monitoramento remoto. Mesmo assim, 16.081 furtos ainda foram registrados em sua área de concessão.
A Neoenergia, que opera em cinco estados, registrou perdas superiores a R$ 10 milhões. Já a Equatorial, que atua em sete estados, sofreu um aumento de 47% nos furtos, com 197 episódios em 2024 e mais de 38 toneladas de fios levadas pelos criminosos.
Na área de concessão da Light, no Rio de Janeiro, os furtos aumentaram drasticamente: em 2023, foram 247 ocorrências, com 14.290 metros de cabos furtados e prejuízo de R$ 1,2 milhão. Já em 2024, os números saltaram para 338 casos, com 71.215 metros roubados e um impacto financeiro de R$ 8,9 milhões.
Consequências para a população
Os furtos de fios afetam diretamente milhares de brasileiros, deixando residências e comércios sem luz e dificultando o acesso à internet. O comerciante Rodrigo Ferreira de Souza foi uma das vítimas. "Subiram no telhado da minha casa e roubaram toda a fiação de energia. Quando entrei, estava sem luz para nada. O prejuízo foi de aproximadamente mil reais", contou.
Além do impacto econômico, esses crimes colocam em risco a saúde dos moradores. Para separar o cobre do plástico, os criminosos queimam os fios furtados, produzindo uma fumaça tóxica que invade casas e prédios.
Os próprios criminosos se colocam em perigo ao tentar roubar fios de alta tensão. No ano passado, 54 pessoas morreram eletrocutadas ao tentar furtar cabos elétricos—um aumento de 260% em relação a 2014, quando foram registrados 15 casos.
Além disso, a receptação de fios furtados alimenta uma cadeia criminosa mais ampla, ligada ao tráfico de drogas e outros delitos. A Polícia Civil tem realizado operações para combater a venda desse material em ferros-velhos e depósitos de reciclagem, mas o problema persiste.
"A receptação fomenta o furto, e o furto fomenta o tráfico e o consumo de drogas. A pena para esse crime varia de 1 a 4 anos, a mesma do furto simples, o que acaba beneficiando os criminosos", disse Márcio Kenji Ito, investigador de polícia.
Soluções para um problema crescente
Para reduzir os furtos, distribuidoras de energia têm investido em tecnologias e segurança. Algumas das medidas adotadas incluem:
- Substituição de fios de cobre por alumínio, que tem menor valor comercial;
- Instalação de proteção mecânica, como tubulações de aço galvanizado e concretagem na rede subterrânea;
- Monitoramento remoto com sensores e alarmes;
- Rondas frequentes de equipes de segurança patrimonial.