Família luta para levar cão de assistência a Portugal após companhia aérea negar embarque
Mesmo com decisão judicial, TAP impede pela segunda vez que cão de serviço de uma menina autista viaje na cabine
Léo Sant'anna
Eliete Albuquerque
Há 49 dias, uma família do Rio de Janeiro, que se mudou para Portugal, tenta embarcar o cão de serviço que acompanha uma menina de 12 anos com autismo. Mesmo com uma decisão judicial favorável, a companhia aérea TAP barrou o embarque do animal na cabine pela segunda vez.
Teddy, um labrador treinado durante dois anos para acompanhar pessoas com deficiência, deveria estar em Portugal junto da sua tutora. A Justiça concedeu uma liminar que autorizava o cão a viajar na cabine, acompanhado por Hayanne, irmã da menina. No entanto, a companhia aérea descumpriu a decisão e sugeriu que o animal fosse transportado no compartimento de cargas do avião.
"Ele não pode ser manipulado por qualquer pessoa. Seria exposto a condições que desconhecemos, o que poderia fazer com que ele chegasse ao destino sem estar apto para realizar o trabalho dele, que é justamente prevenir as crises da minha irmã", afirma Hayanne Porto Grangeiro, irmã da criança.
+ Justiça decide que companhias aéreas podem se negar a transportar animais de suporte emocional
O caso corre em segredo de Justiça. Está marcada uma audiência de conciliação na próxima semana, na tentativa de um acordo entre a família e a companhia aérea. Enquanto o impasse não se resolve, quem mais sofre é a menina, que segue distante do cão.
O pai, que é médico e já está em Lisboa com a família, relata que a filha tem sentido muito a ausência do Teddy. "A gente tem visto ela muito quietinha pelos cantos da casa. É uma situação que vem abalando muito a estrutura emocional de todos nós", desabafa Renato Sá.
De acordo com a neuropsicóloga Amanda Bastos, a distância do cão pode agravar o estado emocional de uma pessoa autista. "Pode gerar alteração no padrão alimentar, na rotina de sono e na inserção social", explica.
Ela reforça que o cão de assistência é essencial na prevenção de crises. "Além de auxiliar na regulação emocional no dia a dia e favorecer as habilidades socioemocionais e de linguagem, ele também colabora na prevenção dos episódios mentais e no apoio à família para que a criança receba a intervenção adequada quando essas situações acontecem", completa.
Por meio de nota, a TAP informou que a ordem judicial brasileira violaria o manual de operações da companhia.
O presidente da Comissão de Direito Aeronáutico da OAB/RJ, Antônio José Silva, esclarece que cães de assistência têm condições específicas.
"Eles têm certificação como animal de serviço. Cabe à companhia o transporte obrigatório e gratuito na cabine, sempre aos pés do dono. Não podem ocupar poltronas nem corredores. É um comportamento completamente diferenciado dos demais animais", afirma.
Ele explica ainda que, mesmo com o direito garantido, a recusa pode ocorrer por questões de segurança. "A segurança não pode ser colocada em dúvida. A aviação é extremamente conservadora quanto a isso", reforça.
O pai, no entanto, não concorda com essa justificativa. "Eu jamais colocaria em risco a vida de outras pessoas, incluindo a minha, a da minha filha e da minha esposa, que estariam no voo", ressalta.