Engenheiros alertaram sobre deficiências em casas de bombas de Porto Alegre em 2018 e 2023
Ano passado, após o Guaíba ultrapassar a cota de inundação de 3 metros, técnicos alertaram sobre a "necessidade urgente de resolução dos problemas nas estações"
Enquanto parte de Porto Alegre continua embaixo d'água há 19 dias, documentos da prefeitura mostram que técnicos já alertavam para a manutenção urgente do sistema anti-cheia da cidade. Os equipamentos fazem parte de um sistema construído na década de 1970, que inclui também diques, um muro e comportas.
Documentos internos da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e do Departamento de Água e Esgotos mostram que, em 2018, engenheiros pediram análise do projeto de duas estações de bombeamento da capital gaúcha para "avaliar a falha na proteção em relação às cheias do rio a níveis superiores à cota de três metros até o nível de seis metros."
Em 2023, após o Guaíba ultrapassar duas vezes a cota de inundação de três metros, técnicos alertaram sobre a "necessidade urgente de resolução dos problemas nas estações" que protegem os bairros mais centrais e a zona norte da capital.
O diretor do Departamento de Águas e Esgotos, Maurício Loss, que está no cargo desde fevereiro de 2023, garante que o processo interno não passou por ele e nem pelo prefeito.
“O processo não ficou parado em nenhum momento. Foi tramitado, inclusive, por áreas pertinentes ao projeto. Mas não há um tempo hábil, principalmente se tratando de poder público, em cinco meses, se fazer um projeto que não é uma simples elevação de parede.
O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, disse que o problema das enchentes na cidade não se resume às casas de bombas.
“Será que as pessoas não se dão conta que choveu milhões de metros cúbicos no Rio Grande do Sul e Porto Alegre está no meio? E todas as águas dos arroios, dos rios que jogam, dos quatro rios, que são o Jacuí, o Caí, o Sinos e o Gravataí. Vocês acham que realmente essas águas que chegam aqui, o vento para lá, não desce para a lagoa e o problema do alagamento foi porque teve duas casas de bombas?”, afirmou.
Das 23 casas de bombas de Porto Alegre, nove estão em operação, além dos equipamentos doados pela SABESP, a companhia de saneamento de São Paulo. A prefeitura conseguiu acessar novas estações e, aos poucos, pretende reestabelecer a drenagem da cidade. Mas enquanto isso não acontece, áreas como o bairro São Geraldo continuam alagadas.
Em Eldorado do Sul, cidade também banhada pelo Guaíba, algumas das 30 mil pessoas que ficaram desalojadas começam a voltar para o que sobrou das casas.
“É a coisa mais triste do mundo”, desabafa a aposentada Ana Foschiera, que mora no município. “Eu nunca imaginei que eu pudesse passar por isso. Nunca”, completa.