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De presidiário a engenheiro de software: como projeto mudou destino de um jovem brasileiro

Evento reúne universitários egressos do sistema prisional em São Paulo para defender o potencial da educação para mudar vidas

De presidiário a engenheiro de software: como projeto mudou destino de um jovem brasileiro
O egresso e estudante de Engenharia Eder Dourado da Silva. | Arquivo Pessoal
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Eder Henrique Dourados da Silva, de 36 anos, passou 15 anos atrás das grades. Enfrentou dificuldades desde criança. Foi criado pela avó e pela tia em uma comunidade. O pai era dependente químico e a mãe lutava para sustentar a família, mas sem tempo para os filhos. Certo dia, durante uma brincadeira, o irmão mais novo de Eder morreu afogado diante dele e, a partir daí, as coisas só pioraram na vida do rapaz, que também se envolveu com drogas. Abandonou os estudos, praticou alguns roubos para sustentar o vício e foi parar na prisão.

Mas, ao contrário do que acontece com a maioria dos jovens encarcerados, Eder colocou os pés no chão, começou a ler e a estudar e encontrou uma luz no fim do túnel. Ao sair da cadeia, justamente no dia da formatura da filha de 15 anos, jurou que ia mudar e fazer com que a garota tivesse orgulho do pai. Foi assim, com a ajuda do Projeto Nova Rota, que ele mudou o rumo de sua vida.

Sete anos depois de sair do sistema penitenciário, constituiu família, é pai de três filhos, estuda engenharia de software, trabalha e sonha com o sucesso profissional.

Eder é um dos participantes de um evento que, pela primeira vez, vai reunir estudantes universitários egressos de sistemas penitenciários de várias partes do Brasil e de pelo menos outros 12 países. O encontro acontece em São Paulo para troca de experiências sobre o impacto dos estudos na vida de quem achava ter chegado ao fundo de poço e não ver mais saída para recomeçar.

No encontro, que aconteceu neste sábado (31), no Museu do Futebol, será lançada a Rede Global de Acadêmicos da Liberdade, considerada uma espécie de "Linkedin" para conectar empresas com pessoas privadas de liberdade ou recém-saídas da prisão, para facilitar a recolocação deles no mercado de trabalho.

Dados do Departamento Penitenciário, órgão ligado ao Ministério da Justiça, mostram que pelo menos 800 mil pessoas estão encarceradas. Segundo levantamento da ONG Projeto Nova Rota, uma das entidades que encabeçam o movimento de egressos em prol do estudo, o Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial de população carcerária, atrás somente da China e dos Estados Unidos. Além disso, aqui a taxa de reincidência é muito alta. Mesmo assim, apenas 16% dos presos estão matriculados em algum curso.

A pesquisa aponta também que quatro em cada 10 presos têm menos de 29 anos e pouco mais de 10% completaram o ensino médio. Dos que estudam e estão privados de liberdade, cerca de 3 mil fazem algum curso superior ou técnico profissionalizante e o restante, cursos de alfabetização, de ensino fundamental e médio. Já entre os egressos do sistema, mas que ainda cumprem a pena (liberdade condicional, por exemplo), apenas 0,4% estão matriculados em alguma instituição de ensino.

Para reverter esse cenário, ONGs entram em ação e oferecem condições para que o egresso recomece a vida e construa um futuro sólido, baseado em estudo e trabalho.

Educação e liberdade

O encontro deste sábado foi promovido pela organização Incarceration Nations Network (INN), com sede em Nova York (EUA) e na Cidade do Cabo (África do Sul), com o apoio do Projeto Nova Rota, criado em 2019 por estudantes de direto da Faculdade do Largo São Francisco para oferecer bolsas de estudos, mentoria e apoio multidisciplinar a egressos.

Com o tema "Educação e Não o Encarceramento", o encontro reúne pessoas que obtiveram diplomas universitários ainda na prisão, em regime fechado ou semiaberto, após sair do sistema, ou ainda iniciaram um curso dentro do regime fechado e concluíram ao voltar para casa ou seguem estudando em liberdade.

Segundo Karine Vieira, presidente do Instituto Responsa, outra ONG que há 6 anos acolhe egressos do sistema, muitas dessas pessoas não tiveram oportunidades desde o berço e agora precisam ser preparadas para o mercado de trabalho. Ela acredita que, para diminuir o ciclo de violência e combater o alto índice de reincidência, é preciso não só educação, mas também acompanhamentos social e comportamental dentro da realidade de cada um. A ONG já encaminhou 1.952 pessoas para o mercado de trabalho, das quais 1.150 com carteira assinada.

"Acreditamos na educação como ferramenta para otimizar potencialidades individuais e, consequentemente, o processo de integração social", diz Katherine de Almeida Martins, coordenadora do Nova Rota e mestranda em criminologia na USP. Segundo ela, o objetivo da rede de liberdade é alcançar espaços e iniciativas que acolham práticas educativas, para permitir que pessoas encarceradas e egressas exerçam uma atividade profissional que lhes proporcione caminhos para uma vida digna, desempenhando atividades de forma autônoma, criativa e ampla, superando, com isso, desigualdades sociais e realidades a ela impostas desde o nascimento.

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