Brasil avança na construção do primeiro submarino nuclear da América Latina
Projeto da Marinha reforça a soberania nacional e posiciona o país entre as potências com tecnologia nuclear militar

Simone Queiroz
Victor Ferreira
O Brasil está em fase avançada no desenvolvimento do primeiro submarino nuclear, um marco inédito na América Latina. A construção representa um passo estratégico para as Forças Armadas e pode colocar o país em um seleto grupo de nações com alta capacidade militar e tecnológica.
Em Iperó, no interior de São Paulo, uma área de 8,5 quilômetros quadrados abriga alguns dos principais segredos de defesa e avanços tecnológicos nacionais. O local é o Centro Industrial de Aramar, pertencente à Marinha do Brasil. Ali, técnicos e militares desenvolvem o reator – ou seja, o motor – que equipará o submarino nuclear brasileiro, cuja construção está prevista para ocorrer na próxima década, em Itaguaí, no Rio de Janeiro.
“Considerando as dimensões que temos na nossa Amazônia Azul, a grande área, a extensão na qual a gente tem que garantir a nossa soberania, a nossa capacidade de escoar os nossos produtos, de recebê-los, o submarino é uma plataforma de extrema importância no sentido de garantir a nossa soberania em toda essa área”, explica Celso Mizutani, diretor do centro tecnológico da Marinha em São Paulo.
Além do impacto na defesa regional, o projeto fortalece as ambições diplomáticas do Brasil, especialmente no que diz respeito à intenção de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
“O Brasil, o que ele mais pretende realizar do ponto de vista diplomático, é uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. E um dos critérios importantes pra que isso venha à tona é exatamente um aparato militar suficiente pra garantir não só a defesa da região, do Cone Sul, como integrar forças militares internacionais, no caso da ONU”, analisa Paulo Ramirez, cientista político da ESPM.
O submarino será movido a urânio, permitindo longos períodos de operação no mar sem necessidade de reabastecimento. O Brasil domina a tecnologia de enriquecimento de urânio há 42 anos. O processo começa com a conversão do mineral bruto em gás e segue com o enriquecimento em centrífugas de alta rotação, aumentando a capacidade energética.
“Nesses tipos de instalação, a gente abriga o conhecimento que foi desenvolvido pelo país, pela Marinha, ao longo de vários anos. É um conhecimento sensível, que o Brasil assinou diversos acordos internacionais de não proliferação, então a gente preserva esse conhecimento, preservando o investimento do país”, destaca Sérgio Luís Miranda, diretor de desenvolvimento nuclear da Marinha em São Paulo.
O Brasil é um dos 13 países que dominam essa tecnologia. Por isso, a segurança nas instalações é rigorosa. Militares são treinados para lidar com tentativas de invasão ou contaminação, algo que nunca ocorreu até hoje.
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A construção do submarino não se limita à segurança nacional. O projeto impulsiona a indústria, estimula a pesquisa nas universidades e gera tecnologias com aplicação civil. Um dos exemplos é o uso de radiofármacos para exames médicos avançados, processos de esterilização de alimentos exportados e a geração de energia elétrica.