Angra 3: Usina nuclear aguarda parecer para retomada das obras
Eletronuclear espera uma decisão do governo sobre a retomada do projeto, que já custou R$ 12 bilhões
Liane Borges
Entre a exuberância da Mata Atlântica e a costa do mar, o complexo de usinas nucleares em Angra dos Reis se destaca para quem passa pela rodovia Rio-Santos. As duas unidades do local geram energia para cerca de 6 milhões de pessoas. Esse número seria ainda maior se Angra 3 estivesse em operação.
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O SBT Brasil visitou o local e a jornada começou com os procedimentos de segurança obrigatórios. A reportagem de Liane Borges e Dácio Júnior mostra que, até o momento, a construção de Angra 3 foi interrompida três vezes desde o início, em 1984, por questões financeiras e judiciais. A Eletronuclear, empresa de economia mista vinculada ao Ministério de Minas e Energia, aguarda agora uma decisão do governo para saber se a obra será retomada.
No complexo, equipamentos comprados para a usina estão embalados e armazenados em um galpão. Além disso, a manutenção do canteiro de obras, que emprega 200 funcionários, custa R$ 10 milhões por mês.
Segundo o superintendente de construção, Antônio Zaroni, a preservação da estrutura é feita regularmente. "O nosso controle de qualidade, ele faz inspeção e aponta onde pode estar com problema, pra gente atacar. Então, a usina está muito preservada", afirma.
R$ 23 bi para finalizar obra ou R$ 21 bi para desistir do projeto
Um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) apontou que serão necessários R$ 23 bilhões para finalizar a obra, ou R$ 21 bilhões para desistir do projeto, além dos R$ 12 bilhões já investidos. Com 66% da estrutura pronta, a decisão sobre a continuidade de Angra 3 será do Conselho Nacional de Política Energética, que inclui 17 ministérios. A decisão deve sair até a primeira semana de dezembro.
Se concluída, a previsão é que Angra 3 entre em operação em 2030, fornecendo energia para 4,5 milhões de pessoas — o equivalente às populações de Belo Horizonte e Brasília juntas. Para o presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, a usina é fundamental para garantir uma base firme de energia no país. "O Brasil precisa ter uma base de energia nuclear firme, que eu estimo, aí, em torno de 10%, exatamente para poder dar resiliência, garantir ao sistema elétrico nacional, né? Se a gente olhar eólica e fotovoltaica, elas são intermitentes, depende do vento e depende do sol", afirma.
No entanto, especialistas ponderam sobre o projeto. Ronaldo Serôa da Motta, professor de Economia do Meio Ambiente da UERJ, questiona o custo da energia nuclear em comparação com outras fontes. ""O Brasil tem várias opções de energia limpa - pensando nas emissões de gás do efeito estufa - que são mais baratas que a nuclear e que nós temos muito mais competência e facilidade de aplicar", comenta. Já Emilio La Rovere, da UFRJ, critica o uso de tecnologia "obsoleta": "Qual o sentido, hoje, de se construir uma central nuclear com uma tecnologia obsoleta do século 20, que foi concebida, desenhada, inicialmente, para equipar submarinos nucleares?".
Angra 1 também espera por renovação de licença
Enquanto Angra 3 está em compasso de espera, Angra 1 aguarda a renovação da licença para continuar em atividade. A documentação já foi enviada à Comissão Nacional de Energia Nuclear, e inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica visitaram a usina.
O superintendente de Angra 1, Abelardo Vieira, afirma que a usina passa por modificações e modernizações para garantir sua operação segura pelos próximos 20 anos.
Para os moradores de Angra dos Reis, a principal preocupação com as três usinas é justamente a segurança. A Eletronuclear garante que tudo é rigorosamente monitorado, incluindo a paradisíaca praia a três quilômetros dos reatores, onde o mar é 10°C mais quente devido ao sistema de resfriamento das usinas. "Não há contato com material radioativo e não há risco para a população", garante a bióloga Gabrielle Pierangeli.