Torres nega que viagem à Bahia na véspera da eleição fosse para planejar blitze
Ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro presta depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos no DF
Emanuelle Menezes
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro (PL), foi questionado durante depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, nesta 5ª feira (10.ago), sobre a viagem que fez à Bahia dias antes do 2º turno das eleições presidenciais de 2022.
Torres declarou que foi até Salvador a convite do diretor da Polícia Federal, para visitar a obra da superintendência da PF da Bahia. E que, após uma reclamação do diretor da Polícia Federal, de que não conseguiria dar conta de todo o estado, sugeriu um trabalho em conjunto entre as duas instituições, "visando uma maior capilaridade".
Entretanto, Torres afirma - ao contrário do que diz o delegado Almada - que não determinou nenhum município onde esse policiamento deveria ser reforçado. "Não determinei cidade nenhuma", disse ele, que completou:
"Eu não estive com ninguém da Polícia Rodoviária Federal na Bahia" - Anderson Torres
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Acareação no Congresso
A relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), acredita que há contradição entre os depoimentos do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e do ex-superintendente da Polícia Federal (PF) da Bahia, Leandro Almada.
Ela afirmou que vai pedir uma acareação entre os dois na CPMI para tentar definir o que motivou a viagem de Torres a Salvador no dia 25 de outubro, às vésperas do segundo turno das eleições de 2022.
"Leandro Almada afirma categoricamente que o objeto desta reunião não se tratava dessa obra específica na Bahia, mas sobretudo desse levantamento, desse detalhamento acerca desses pontos centrais de votação", disse a senadora.
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Blitze no Nordeste
No dia 30 de outubro de 2022, dia do 2º turno das eleições, a PRF realizou mais de 500 operações contra veículos que faziam o transporte de eleitores. A maioria das blitze foram feitas no Nordeste, região em que Lula tinha ampla vantagem contra Bolsonaro.
Um possível uso político da polícia pelo então governo Bolsonaro fez com que o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se reunisse com o então diretor-geral da instituição, Silvinei Vasques, e determinasse a suspensão das operações.
Dados da Polícia Rodoviária Federal, divulgados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, mostraram que o Nordeste concentrou quase metade dos ônibus fiscalizados no segundo turno das eleições de 2022.