Escavações buscam vestígios de vítimas da ditadura militar no antigo DOI-CODI
Opositores ao regime foram torturados e assassinados na sede do Centro de Operações da Defesa Interna, em São Paulo
Gudryan Neufert
Começaram, nesta 4ª feira (02.ago), as escavações na sede do antigo Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-CODI, em São Paulo. O local era o destino de presos políticos, que faziam oposição à ditadura militar no país. Lá, muitos foram brutalmente torturados e assassinados.
Os trabalhos começaram no estacionamento do prédio, onde os opositores desembarcavam das viaturas. Serão duas semanas de intensa coleta de material. Os pesquisadores tentam entender o que pisos, escadas e paredes têm a revelar sobre o passado.
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É a chamada "Arqueologia da Arquitetura", conforme explica a professora da Universidade Federal de São Paulo, Claudia Regina Plens. "Uma das coisas que a gente tenta encontrar com a arqueologia forense são as escritas, porque as vítimas falam que elas deixavam recados", diz a especialista.
O prédio do DOI-CODI é tombado como patrimônio histórico. Ele fica atrás de uma delegacia que funciona até os dias de hoje, na zona sul de São Paulo. No futuro, a ideia é montar um memorial no local, e todo o material coletado será disponibilizado virtualmente.
Ao menos 51 pessoas morreram nas instalações do DOI-CODI, segundo a Comissão da Verdade, e cerca de 7 mil presos políticos passaram pelo prédio.
A historiadora Deborah Neves, que coordena o grupo de trabalho, avalia como estudar esse período pode ensinar sobre o presente. "Compreender o que foi o DOI-CODI é compreender como que a gente estruturou nosso serviço de Segurança Pública, e como ele está estruturado até hoje", pondera a pesquisadora.
O jornalista Vladimir Herzog foi torturado até a morte nas dependências do DOI-CODI. Os pesquisadores cruzam agora dados do GeoRadar e escaneamento 3D da planta original para tentar identificar o local exato onde foi tirada a foto do corpo do jornalista, que chocou o mundo.
"[O equipamento] joga ondas e, dependendo da resposta, a gente consegue ver alterações na estrutura. Então, lugares onde hoje a gente não vê nada, passando o GeoRadar, a gente vê uma antiga porta, uma antiga janela", explica Claudia Regina Plens.
Uma das maiores referências na pesquisa sobre DOI-CODI, a historiadora Mariana Joffily conta que os militares usavam métodos da própria polícia civil, e também importados de tropas americanas e francesas. "Era através da obtenção de informações, para conseguir mapear as estruturas das organizações de esquerda, e poder destruí-las. Essas informações se obtinham pelo interrogatório".