Fim de semana terá homenagens às vítimas da chacina da Candelária
Há 30 anos, policiais militares assassinaram 8 jovens em situação de rua no Rio de Janeiro
SBT News
A chacina da Candelária, um dos mais terríveis casos de violência policial da história do país, completa 30 anos neste domingo (23.jul). Policiais militares assassinaram 8 jovens em situação de rua com idades entre 11 e 19 anos no centro do Rio de Janeiro.
Neste fim de semana, uma série de ações estão programadas em memória das vítimas. As homenagens às vítimas começaram pela manhã desta 6ª feira (21.jul) e se estenderam até à noite, bem em frente à igreja da Candelária.
Érica Nunes escapou por pouco, só não foi baleada porque tinha ido buscar um café: "depois da candelária, eu tive muito medo. por um tempo, continuamos na rua, só que a gente não ficava mais na candelária, a gente tinha medo de dormir na rua novamente, tinha medo de acordar".
A professora e ativista Yvone Bezerra de Mello conhecia todas as vítimas, e foi uma das primeiras a chegar ao local. "Eu sabia que alguma coisa iria acontecer com 72 criaturas soltas no centro de uma cidade. Chegando lá, o que eu vi: crianças correndo pra todos os lados, os meninos mortos. O que eu fiz foi agrupá-los à minha volta, tentar acalmá-los e escutar o que eles tinham a dizer", conta.
O motivo do crime seria vingança. No dia anterior, a viatura dos policiais tinha sido apedrejada pelos menores.
Uma das vítimas era Wagner dos Santos, peça-chave na investigação. Ele sofreu um atentado pouco antes do julgamento. Com sequelas, foi incluído no programa de proteção a testemunhas e vive fora do país.
"Tentaram assassiná-lo pra que ele não testemunhasse outra vez. Ele teve que viver e ainda vive fora do país até hoje", afirma Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional.
Sandro Barbosa do Nascimento era um dos sobreviventes. Sete anos depois, ele sequestrou um ônibus na zona sul do Rio. O episódio terminou com a morte de uma passageira. Sandro morreu asfixiado por PMs dentro da viatura.
Três PMs foram condenados pela chacina da Candelária. Para dois deles, as penas somadas chegaram a mais de 500 anos de prisão. Eles ficaram 14 anos na cadeia, mas foram soltos porque receberam indultos da Justiça. O terceiro teve o benefício cancelado e permanece foragido.
Para a Anista Internacional, a chacina da Candelária está intimamente ligada à violência policial e ao racismo. "O Rio de Janeiro e o Brasil não aprenderam nada com a chacina da Candelária, e é preciso que a sociedade faça o país mudar de direção e que faça o Rio de Janeiro mudar de direção", diz a representante do órgão.