Atos de junho: ataques a jornalistas mudaram a cobertura da imprensa
147 profissionais foram vítimas de violência durante os atos de 2013. No RJ, cinegrafista foi morto
Emanuelle Menezes
Liane Borges
O Rio de Janeiro foi a cidade que reuniu o maior número de pessoas em um único dia de protestos em 2013: mais de 300 mil. A capital fluminense também foi cenário de alguns dos atos mais violentos do país, com ataques a jornalistas, a morte de um cinegrafista e uma mudança de comportamento da imprensa.
Segundo o cientista social Jonas Medeiros, o que o Brasil viveu, em 2013, começou muito antes de junho. Era uma onda global de manifestações, com a Primavera Árabe, os Indignados da Espanha, revoltas na Turquia e o Occupy Wall Street, nos Estados Unidos.
"Tem um acúmulo de insatisfações em relação à qualidade da nossa democracia. As pessoas estão ali, praticamente, esperando uma gota d'água para poder expressar isso de uma forma massiva", afirma Medeiros.
No Brasil, em fevereiro de 2012, estudantes de Porto Alegre foram às ruas contra o aumento nas passagens de ônibus. Em agosto de 2012, a "Revolta do Busão", uma série de manifestações organizada por movimentos populares, parou Natal, no Rio Grande do Norte.
No Rio de Janeiro e em São Paulo, os atos só não começaram em janeiro de 2013 porque o reajuste foi adiado pelas prefeituras das duas capitais, a pedido do governo federal, então chefiado pela presidente Dilma Rousseff (PT). O objetivo era segurar a inflação.
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Quando o aumento foi anunciado, para junho de 2013, não demorou muito para a insatisfação aparecer. No Rio de Janeiro, os 20 centavos a mais levaram a população para as principais avenidas, como a Presidente Vargas e a Rio Branco. Os atos se espalharam pela Região Metropolitana e até a ponte Rio-Niterói chegou a ser interditada.
Para conter a revolta, a prefeitura do Rio suspendeu o reajuste das passagens de ônibus no dia 19 de junho. Mas os protestos continuaram. No dia seguinte (20), cerca de 300 mil pessoas se reuniram no centro da cidade. Nesse dia, manifestantes tentaram invadir a sede da prefeitura.
A imprensa foi duramente atacada no dia 20. Um carro de reportagem do SBT foi incendiado. Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), 147 profissionais de imprensa foram vítimas de violência durante os atos de 2013.
Para seguir realizando a cobertura, foi preciso que a imprensa encontrasse alternativas para trabalhar em segurança. A forma de atuação dos jornalistas mudou, com o uso de equipamentos de segurança e com microfones que não identificassem a emissora. O repórter do SBT, Léo Sant'Anna, lembra dos riscos de estar nas ruas em 2013.
"A gente já tinha chegado nesse ponto, né? Usar um equipamento que jornalistas usam em guerra. Não havia mais dúvidas de que as equipes que estavam na rua estavam correndo um risco muito grande", declara ele.
A revolta se repetiu no ano seguinte, 2014, quando a prefeitura do Rio decidiu reajustar o valor das passagens, que havia tido o aumento suspenso em junho de 2013.
Foi em um ato em fevereiro daquele ano que a imprensa levou seu mais duro golpe. A morte do repórter cinematográfico da TV Bandeirantes, Santiago Andrade. Ele foi atingido por um rojão, na cabeça, atirado por dois manifestantes, na Central do Brasil. Três dias depois, ele teve a morte cerebral constatada.
Fábio Raposo e Caio Silva de Souza respondem em liberdade pelos crimes de homicídio doloso qualificado e explosão. O julgamento dos dois foi marcado para 12 de dezembro.