Registros de adoção de crianças maiores de 8 anos ainda são raros no país
Apenas 5% dos adotantes acolhem crianças acima dessa faixa etária

Victor Ferreira
Em 2022 o Brasil bateu recorde nos processos de adoção, porém a conta não fecha. O país tem hoje 34 mil adotantes cadastrados e 4.500 crianças e adolescentes disponíveis nos abrigos à espera de uma família, 70% com mais de 8 anos.
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Apenas 5% das famílias interessadas aceitam filhos acima dessa idade. E essa não é a única restrição. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça cerca de um terço têm preferência por meninos e meninas da cor branca, e 95% não aceitam pessoas com deficiência.
Mas há famílias que fogem à regra. Juliana Nogueira Lima e Rodrigo Nunes de Lima, inspetores escolares, já estavam cadastrados no Sistema Nacional de Adoção quando viram um vídeo dos irmãos Samuel e Riana, então com 3 e 11 anos, respectivamente. "Na hora que eu vi o vídeo, as lágrimas já desceram", diz Juliana, emocionada. Logo depois o casal de Suzano, SP, passou 20 dias visitando o abrigo onde estavam as crianças.
"Muitas vezes a gente ia lá pra pegar eles na escola, levar na escola. A gente viajava cem quilômetros ida e volta pra passar meia hora ali com eles", conta Rodrigo.
Os dois irmãos foram adotados e a família de Juliana e Rodrigo dobrou de tamanho. Antes de encontrar os verdadeiros pai e mãe, Samuel e Riana haviam passado um ano e meio com outra família adotiva, que optou por devolvê-los ao abrigo.
A especialista em neurociência do comportamento Lisandra Barbiero, autora do livro "Não nascemos filhos, mas nos tornamos" explica porque a adoção tardia ainda é rara no Brasil: "Esses pretendentes, por não terem participado dessas descobertas que são inerentes às primeiras fases de vida das crianças, teriam o sentimento de que a maternidade e a paternidade não estariam sendo vivenciadas de maneira plena", afirma.
Outro fator é o medo da adaptação. Segundo Lisandra é um equívoco achar que o fato da criança ser maior e ter sua personalidade dificulta a criação dos laços afetivos com a família. "A convivência diária é que faz o relacionamento familiar se tornar uma construção sólida do amor", diz.