Brasil é o 5º país com mais casamentos em que um dos noivos é adolescente
Casamento do prefeito de uma cidade do Paraná com uma jovem de 16 anos reacendeu a discussão
Gudryan Neufert
O casamento do prefeito de uma cidade do Paraná com uma jovem de 16 anos reacendeu a discussão sobre matrimônios envolvendo menores de idade.
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O Brasil é o 5º país do mundo com mais casamentos em que um dos noivos é adolescente, fica atrás apenas de Etiópia, Nigéria, Bangladlesh e Índia. No ano passado, a média foi de oito matrimônios por dia, número que pode ser bem maior, por causa da subnotificação, já que nem sempre os envolvidos oficializam a união em cartório.
A manicure Sara Castilho é cristã, seguiu a religião dela e se preparou para casar cedo. O matrimônio veio aos 16 anos, com a autorização dos pais. O marido, na época, tinha 19.
"A gente já namorou durante 2, 3, 4 anos e a gente foi se preparando. O meu pai foi um pouquinho mais complicado pra deixar, ele não queria muito", conta Sara.
O casamento de adolescentes é uma realidade em várias partes do mundo. Um caso repercutiu bastante nesta semana. O prefeito de Araucária, no Paraná, se casou aos 60 anos com uma jovem de 16. Ele também deu um cargo para a sogra. Após a repercussão, ela foi exonerada da prefeitura, só que essa união pode ser anulada, porque foi a vice-prefeita que a celebrou. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), isso configuraria incompatibilidade de atividades.
A realidade dos casamentos de adolescentes no Brasil é bem diferente deste caso do Paraná. "Além dos fatores do contexto social, a gente tem os estereótipos de gênero, a gente tem as relações desiguais de poder, e a gente tem também essa perspectiva machista, a visão de que tudo bem um homem casar com uma menina mais nova", afirma a socióloga Ana Nery.
Desde 2019, a lei brasileira proíbe casamentos de menores de 16 anos. Quem tiver entre 16 e 18 precisa da autorização dos pais. Especialistas apontam para os riscos socioeducativos que esse tipo de união pode trazer.
Para a ONU, o casamento infantil está intrinsecamente relacionado à pobreza, desigualdade social e baixa escolaridade, sendo mais comum entre meninas do que meninos. No Brasil, o número de garotas que casam sem atingir a maioridade é quatro vezes maior do que o de garotos.
"Elas imediatamente interrompem os estudos, normalmente acabam engravidando precocemente. A gente tem uma entrada tardia no mercado de trabalho, e elas vão criando essa dependência financeira, econômico e emocional com esses homens, e que lá na frente a gente acaba verificando que se reflete numa situação de violência doméstica", afirma Nathalie Malveiro, procuradora de Justiça.
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