Apreensão de fuzis quadruplica em 4 anos no Distrito Federal
Levantamento do SBT News revela que policiais apreenderam 20 dessas armas pesadas de 2019 a 2022
Leonardo Cavalcanti
Um projétil de revólver calibre .38 atinge com precisão um alvo a 50m de distância. O alcance efetivo de uma pistola 9mm é de no mínimo 100m. A bala disparada por um fuzil ultrapassa com eficiência e força os 600m - e pode chegar a 3.000m. Nos últimos quatro anos, período do governo de Jair Bolsonaro, o poder de fogo dos armamentos apreendidos no Distrito Federal tem aumentado a cada balanço das ações.
Levantamento de maio de 2022 feito pelo SBT News a partir da Lei de Acesso à Informação (LAI) já mostrava que desde 2021 as pistolas tinham iniciado uma escalada nas apreensões no Distrito Federal. Agora, novos dados exclusivos revelam que a estrela das operações contra armas ilegais é o fuzil, que pode matar uma pessoa a três quilômetros de distância. De 2019 a 2022, a Polícia Civil recolheu 20 desses armamentos pesados que circulavam de maneira ilegal pelo Plano Piloto e pelas regiões administrativas do Distrito Federal.
Em 2019, policiais apreenderam dois fuzis. Em 2020, cinco - um ano depois, outros cinco. No ano passado, o número chegou a oito - ou seja, um fuzil foi apreendido a cada 45 dias. Ainda no primeiro ano do governo Bolsonaro, o Exército publicou portaria prevendo a liberação de fuzis para caçadores, atiradores e colecionadores, os CACs. Na sequência, um decreto deu a chance para o grupo comprar até 30 fuzis.
"Os números de apreensões de fuzis são coincidentes com o panorama das mudanças ocorridas por causa dos regulamentos federais. Até 2019 o fuzil era uma arma proibida para os civis, mas depois passou a ser liberada para CACs em grandes quantidades", diz Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz. "Não coincidentemente a gente passa a verificar uma maior apreensão dessas armas em várias praças do Brasil, como Rio e São Paulo", afirma o pesquisador, que é autor do livro Arma de fogo no Brasil - gatilho da violência (Editora Telha, 172 páginas).
O levantamento do SBT News mostra também uma mudança do perfil das armas recolhidas pela Polícia Civil no Distrito Federal. Se até 2018, para cada pistola aprendida mais de dois revólveres eram encontrados, em 2022 a arma com mais poder de fogo - liberadas justamente pelos decretos de Bolsonaro - bateu recordes. Hoje, o número de pistolas apreendidas é maior do que o de revólveres (ver quadro).
O modelo de pistola com maior aumento percentual dos registros feitos pela Polícia Civil foi a 9mm. Antes de 2019 a arma estava restrita às forças de segurança, mas passou a ser autorizada para civis com as novas regras. Apenas em 2022 foram apreendidas 340 dessas pistolas, contra 41 registros feitos em 2019, um crescimento de 729%.