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Brasil

"Sabemos que vai acontecer de novo, só não sabemos quando", diz pesquisadora

Telma Vinha, da Unicamp, fala sobre o aumento de casos de violência nas escolas e políticas públicas

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sala de aula vazia
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O Brasil registrou nove ataques em escolas nos últimos nove meses. Esses últimos atentados resultaram em sete mortes. Os dados fazem parte de um estudo, que ainda está em fase de conclusão, realizado pela professora Telma Vinha, da Faculdade de Educação e coordenadora do Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública, do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp. Em entrevista ao SBT News, nesta 2ª feira (27.mar), após o ataque a facadas na escola de São Paulo, a pesquisadora foi taxativa: novos casos vão acontecer. 

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"A gente vê que tem um aumento extremo da quantidade de ataques, e isso significa que vai acontecer de novo. E esse estudo só envolve estudantes e ex-estudantes que retornam a sua escola por algumas razões, mas esses ex-estudantes e estudantes cometeram ataques, mas vários outros foram desbaratados antes que acontecessem", frisou Telma.  

Para a pesquisadora, os ataques podem ser evitados se houver um trabalho de acompanhamento de alunos e do comportamento deles dentro e fora da escola. "Sempre é preciso pensar nesse problema com variáveis inter-relacionadas. É muito complexo e não tem saída simples. O aumento tem vários fatores, entre eles, eu queria destacar uma cultura da violência nos últimos anos em que tem um discurso social autorizando o tratamento do conflito pela violência e não pela palavra. É um discurso social que está encorajando atos agressivos", pontua a pesquisadora. 

A professora ainda chama atenção para a importância da atuação da família e da sociedade, para romper com o discurso social que, segundo Telma, tem estimulado a violência. "Você tem, por exemplo, comunidades que têm discursos de ódio, grupos sociais como família, amigo, que valorizam discriminações, uso de força, machismo, misoginia", observou. 

Telma avalia que, dentro dos ataques estudados pela Unicamp, existem dois grandes grupos. O primeiro é o que valoriza a ação violenta como resultado de raiva e vingança - ataques pós bullyng ou um castigo na véspera, por exemplo, ou seja, aqueles movidos por algum tipo de sofrimento na escola. E o segundo motivo, que tem ocorrido  com mais frequência, são os ataques cometidos por adolescentes que são usuários do que ela chama de uma "subcultura extremista". 

"Esses ataques buscam fazer o maior número de vítimas. Esses adolescentes eles têm articulação com comunidades mórbidas, por exemplo, fóruns online de incentivo à violência. E o que é mais grave é que antigamente isso era deep web, então era deep web, agora, cada vez vemos na superfície da internet. Instagram, TikTok, é Twitter, então eles são cooptados pelos jogos online", alerta. 

A pesquisa indica que comunidades e jogos desta natureza "acolhe o jovem, incentiva e estimula a radicalização". "Então se eles já não estão bem, porque muitos já apresentam distúrbios psicológicos, etc., eles são incentivados. E aí você tem um caldeirão para que esses ataques continuem acontecendo", enfatiza.

O aumento da circulação de armas de fogo e munição no país, também contribuiu para o crescimento dos ataques, na avaliação da pesquisadora. Das 23 escolas atacadas, segundo o estudo da Unicamp, 12 utilizaram armas de fogo, 6 tinham a arma em casa, 4 compraram de terceiros e 2 são de origem desconhecida. 

O estudo que começou a se debruçar sobre o tema há 20 anos, ainda não está concluído e vem atualizando os dados a cada nova ação.

"A escola pode ser um espaço de escuta, ela pode ser espaço de acolhimento, mais para isso é necessário políticas públicas para que capacite esses profissionais, a escola, para que isso seja feito".

Assista à íntegra da entrevista:

+ Estudo mostra que 36 pessoas morreram em ataques violentos a escolas desde 2002

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