Escolas de Educação Infantil em São Paulo terão cartilha antirracista
Pesquisa aponta que metade dos professores já presenciou situações de racismo no ambiente escolar
Mariana Alonso
A Prefeitura de São Paulo lançou, nesta 3ª feira (22 mar), um currículo antirracista voltado para a educação infantil da capital paulista. Serão distribuídas 29,5 mil cartilhas que explicam sobre o racismo e abordam práticas que visam impedir o preconceito e promover igualdade e justiça social.
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Também foi anunciada a compra de 128 mil bonecas e bonecos negros e migrantes para complementar a ação. O intuito é aproximar as crianças das culturas dos povos originários, como africanos e andinos. As bonecas estão divididas em kits compostos por três bonecos negros, três bonecas negras, um boneco andino, uma boneca andina e um boneco bebê negro.
De acordo com Tássio José da Silva, diretor da Divisão de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação, por muito tempo os brinquedos que eram disponibilizados para as crianças de zero a 5 anos e 11 meses na Educação Infantil eram permeados por uma indústria cultural que produzia bonecos brancos.
"Ou seja, a maioria da população é negra e essas crianças por muito tempo, e ainda hoje em muitos locais, não se sentem representadas nesses brinquedos", explica Tássio.
O lançamento da cartilha faz parte de uma política pública implementada por meio de parceria das secretarias municipais de Educação (SME) e Relações Internacionais (SMRI) para combater o racismo estrutural na sociedade a partir da educação.
O material foi criado coletivamente por profissionais de educação para possibilitar uma reflexão sobre as práticas educacionais e propor vivências antirracistas no município de São Paulo, com base na Lei nº 10.639/2003, que em 2023 completa 20 anos, a qual aponta obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas.
Racismo em sala de aula
A pesquisa mais recente realizada pela Nova Escola, organização social focada em Educação, revela que mais da metade dos professores já presenciou situações de racismo no ambiente escolar. O estudo contemplou entrevistas com 1.847 educadores de todo o Brasil.
No geral, 53,2% dos profissionais pretos e pardos declararam ter presenciado situações de racismo na escola nos últimos 5 anos. Além disso, 23,71% dos professores negros alegam que já foram alvo de discriminação. Apesar de estar previsto em lei, 6 em cada 10 professores ouvidos pela pesquisa dizem que não sabem ou afirmam que não existem investimentos em ações relacionadas com o ensino de história e cultura afro-brasileira em suas escolas.
Para Ana Ligia Scachetti, diretora Executiva da Nova Escola, os educadores precisam estar preparados para trabalhar as questões raciais, culturais e de representatividade. "Não só próximo a datas como o Dia da Consciência Negra. Essa precisa ser uma pauta do ano todo, estruturada, e que faça parte do projeto político pedagógico da escola", diz Scachetti.