Além de torturados, trabalhadores contraiam dívidas em vinícolas de Bento Gonçalves
Em novas denúncias, ex-funcionários detalharam agressões em local conhecido com "quartinho da tortura"
Luciane Kohlmann
Depois do resgate de 207 pessoas em situação análoga à escravidão, as denúncias de exploração e tortura em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, não param de chegar.
É o caso de um homem, que prefere não se identificar, e também foi contratado, em 2021, pela Fênix, empresa denunciada por trabalho escravo.
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"Inicialmente, às 4 horas da manhã, começavam as atividades. Porém, não tinha hora de terminar o trabalho. Ele dava um vale para comprar comida. No final de tudo, as pessoas não recebiam nenhum dinheiro. Quando terminasse o trabalho, porém, ficava devendo ainda", relata a vítima.
Segundo ele, o alojamento, que foi interditado, era chamado de "Carandiru". E, quem reclamasse das condições de trabalho, apanhava no "quartinho da tortura".
"Eles chegaram no quatro, os 3, e me chamaram, e aí me levaram para o 'quartinho', e apanhei até umas horas. Foi spray, levei muito chute na costela e murro na cara, e na parta da cabeça. Aqui ficou tudo roxo", lembra o trabalhador.
Cerca de 20 ex-funcionários da empresa procuraram o advogado Alberto Purificação, na Bahia. "É uma escravidão contemporânea, onde o navio negreiro é uma van. Uma carga exaustiva de 16, 18, 20 horas, sem intervalo de descanso, sem folga", expõe o defensor do grupo.
A Defensoria Pública da União criou um grupo de erradicação do trabalho escravo para acompanhar o caso de perto. Defensores da Bahia também prestam assistência a outros 3 trabalhadores, que conseguiram fugir antes da operação que resgatou o grupo de mais de 200 pessoas em Bento Gonçalves.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul entrou com uma ação civil pública contra o vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul, pelas declarações ofensivas e preconceituosas contra os trabalhadores baianos. Caso seja condenado, o parlamentar terá que pagar R$ 300 mil por canos morais coletivos. Quatro ONGs entraram na Justiça pedindo uma indenização ainda maior, de R$ 1 milhão.
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