PSol: ação do Itamaraty atenta contra liberdade de imprensa
SBT News revelou mensagens do Ministério das Relações Exteriores para blindar Bolsonaro no caso Marielle
Roseann Kennedy
O departamento jurídico do PSol (Partido Socialismo e Liberdade) avalia a possibilidade de mover uma ação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por improbidade administrativa, com acusação de uso da estrutura do Itamaraty com finalidades políticas e pessoais.
O presidente da sigla, Juliano Medeiros, disse que o partido foi surpreendido com as informações reveladas pelo SBT News, sobre uma ofensiva coordenada, envolvendo as principais embaixadas do Brasil na Europa, para blindar a imagem do então presidente, na cobertura internacional sobre o caso Marielle Franco.
"O serviço diplomático brasileiro tem funções de Estado e não podem servir a interesses político-partidários. Houve uso político da estrutura do estado por Bolsonaro e é mais um vexame internacional que agora precisa ser corrigido. Configura, de alguma forma, improbidade administrativa. O presidente da República não pode usar as estruturas das embaixadas com finalidades privadas e políticas. Nosso pessoal está avaliando quais medidas são possíveis", disse em entrevista ao programa Poder Expresso.
Segundo telegramas oficiais obtidos pelo SBT News com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), a ação do Itamaraty mirava importantes veículos de comunicação europeus, que associavam em diferentes graus o então mandatário ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), em 14 de março de 2018.
"Me chama muito atenção, porque a maior parte das manifestações, tentando constranger veículos de comunicação no exterior que simplesmente noticiaram fatos de conhecimento público, como as relações do miliciano Adriano da Nóbrega (morto), com a família Bolsonaro, com cargos em gabinetes e homenagens", ressaltou.
Liberdade de Imprensa
Indagado se a ação das embaixadas atenta contra a liberdade de imprensa, Juliano Medeiros avaliou que sim e propôs uma reflexão: "Imagine se o embaixador dos Estados Unidos mandasse uma carta à redação do SBT, determinando o que o jornalista deveria dizer. É um absurdo, sem pé nem cabeça. Que o governo Bolsonaro e ele mesmo desprezavam o trabalho jornalístico, não é surpresa para ninguém. Agora, que se utilize as embaixadas, para tentar constranger o trabalho da imprensa em outros países, é algo inadmissível", avaliou.
5 anos da morte de Marielle Franco
No dia 14 de março fará cinco anos das mortes de Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes. O partido prepara mobilizações pelo país para lembrar o caso e exigir punição aos culpados.
O presidente do Psol diz que causa indignação ver que já se passou todo esse tempo e não há nenhuma pessoa condenada.
"A gente ainda não sabe quem foi o mandante e quais foram as motivações. Não dá para acreditar que dois milicianos saíram um dia e resolveram matar Marielle. Claro que houve um mandante", afirmou.
O PSol não se posicionou sobre a federalização da investigação, mas Juliano avalia que pode chegar o momento que não reste outra alternativa.
"Respeitamos a família da Marielle, que nunca aderiu à tese de federalização. Mas, evidentemente, existe uma frustração muito grande em relação ao resultado das investigações até aqui. Mas, honestamente, acho que esse tempo de preservar a investigação no Rio de Janeiro está chegando ao seu limite. Se nos próximos meses não houver respostas efetivas, talvez a federalização seja a única alternativa", concluiu.
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Assista à íntegra da entrevista: