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"Lula, Lula" e sósia: cidades têm manifestação política no Carnaval de rua

Em João Pessoa, bloco Amantes de Lula saiu em apoio ao petista; movimentos também ocorrem em outros estados

"Lula, Lula" e sósia: cidades têm manifestação política no Carnaval de rua
De um lado, homem e mulher fantasiados de Lula e Janja, e do outro, aglomeração de pessoas no Acadêmicos do Baixo Augusta, em montagem (Reprodução/Twitter)
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Pela primeira vez desde 2020, o Carnaval de rua, em 2023, ocorre normalmente em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, e alguns dos primeiros desfiles deixam nítido que retornou neste ano também a manifestação política durante a festa. No último domingo, antes mesmo do início do feriado, por exemplo, no bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, na região central da capital paulista, inúmeros foliões entoaram juntos o canto "olê, olê, olá, Lula, Lula", em apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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A cena foi registrada com um celular e compartilhada nas redes sociais no último domingo (12.fev). Nas imagens, é possível ver que pessoas fazem o símbolo "L" com a mão, em referência ao nome do chefe do Executivo federal, enquanto o canto é entoado. Em outro vídeo do bloco, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) aparece em cima de um trio elétrico, entoando com vários outros participantes o mesmo canto e também fazendo o "L".

Numa segunda festa, realizada no mesmo dia, o bloco Mamãe Quero ser Cult de São Luís contou com a presença de "Janja". Uma mulher -- Nívia Sampaio -- foi fantasiada de primeira-dama do Brasil. Vestindo uma faixa presidencial, ela carregava um boneco representando a cachorra Resistência - de Janja. Ela estava acompanhada do marido, Dannyel Pereira, que, por sua vez, foi fantasiado de Lula.

Já em João Pessoa, antes mesmo do início oficial da folia, ocorreu o bloco Amantes de Lula. A festa contou com um estandarte com uma imagem do rosto do presidente, com a marca de um beijo na bochecha estampada. Um cortejo que traz no nome o do petista também foi realizado em São Paulo neste sábado. Trata-se do Vem com Lula, no Ipiranga. Ainda na capital paulista, no chamado bloco da Ursal -- termo criado como brincadeira e que alimentou teorias conspiratórias nos últimos anos --, houve mais manifestações de apoio ao chefe do Executivo federal, no dia 12 - um dia depois de o Acadêmicos da Ursal desfilar na região central da cidade.

Por outro lado, em Olinda (PE), devido à polarização política no país, a reprodução de Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não estarão presentes no desfile dos bonecos gigantes deste ano. Em 2020, o desfile contou com bonecos de Bolsonaro, do então vice-presidente, Hamilton Mourão, e do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro; os dois últimos, hoje, são senadores pelo Rio Grande do Sul e Paraná, respectivamente.

Naquele ano, o chefe do Executivo compartilhou uma publicação em agradecimento ao Carnaval de Olinda, por supostamente ter sido aplaudido durante o desfile dos bonecos. A publicação, feita por uma página com alusão a instrumento de tortura (pau de arara), se referia ao evento como o "maior bloco do mundo", sendo que, na realidade, desde 1994, o posto pertence ao Galo da Madrugada, do Recife, segundo o Guinness World Records, o livro dos recordes. Além disso, pessoas que assistiram ao desfile de bonecos disseram à TV Jornal, afiliada do SBT, ter havido protestos e vaias diante dos que representavam figuras do governo, não aplausos generalizados.

Política e Carnaval

Na avaliação de Vinicius Ribeiro Alvarez Teixeira, doutorando em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a política é inerente ao Carnaval.

"As pessoas se expressam muito no festival, de uma forma muito particular, com um pouco mais de irreverência, talvez com um pouco mais de elementos cômicos. Talvez algumas vezes é um pouco mais de deboche mesmo, mas é um momento muito propício para sátiras, para satirizar pessoas, acontecimentos, situações. Enfim, eu acho que tudo isso é político. O corpo na rua é político. Se a gente for pensar nas pessoas minorizadas, o fato de estarem na rua já é. Então eu acho que o Carnaval é essencialmente político", explica.

Ele ressalta ainda que a vivência política institucional é, no geral, "burocrática, cheia de regramentos, uma coisa enrijecida", mas no Carnaval "você tem possibilidade de fazer política de outra forma, com irreverência". "Se a gente for pensar do lado de passeatas, manifestações, elas têm uma forma específica de acontecer. E no Carnaval você tem outra possibilidade de manifestação e que é uma forma de se expressar, de fazer reivindicações mesmo, não é da forma que acontece no cotidiano. E talvez seja de uma forma mais leve. Então, sim, posso dizer que no Carnaval, trazendo esses aspectos, as pessoas se aproximam [da política]", complementa.

Para Vinicius, toda a euforia que existe para o Carnaval de 2023 tem a ver com dois aspectos. "O primeiro é que agora a gente tem condições de fazer o Carnaval de fato. No ano passado ficou aquela confusão se iria ter ou não iria ter, enfim, hoje a gente tem condições de fazer o Carnaval e vai acontecer graças à vacina, não vai acontecer por outra razão, é graças à vacina que a gente pode voltar para a rua. Então tem essa celebração, por um lado", afirma. "E por outro, é um momento de comemoração das pessoas que fazem o nosso Carnaval, do fim do governo Bolsonaro, que foi muito violento com a arte e com a cultura, que questionou o Carnaval. A gente pode lembrar o caso do golden shower, por exemplo".

Em 5 de março de 2019, no primeiro ano de governo, ao se referir a uma cena gravada durante o Carnaval de São Paulo, no Twitter, Bolsonaro escreveu: "Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem [sic] virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conclusões". A postagem teve mais de 3 milhões de visualizações naquela semana e foi classificada como imprópria para menores de 18 anos. Por isso, teve conteúdo restringido. Posteriormente, Bolsonaro perguntou "O que é golden shower?", expressão usada para a prática sexual de urinar no parceiro, que aparece no vídeo compartilhado por ele.

Segundo Vinicius, ficou evidente que a publicação de Bolsonaro com o vídeo foi uma reação dele por ter ficado bastante incomodado com manifestações contrárias a ele ocorridas no Carnaval de 2019. "Aquele Carnaval foi uma primeira manifestação grande, coletiva contrária ao Bolsonaro", fala o mestre em ciências sociais. "Eu lembro que se cantava muito em 2019 'doutor, eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano'", pontua.

Vinicius reforça, porém, que há pessoas de direita que gostam bastante de Carnaval. "A arte a gente sabe que é lugar ocupado majoritariamente pela esquerda, mas também tem gente de direita na arte e tem gente de direita na arte fazendo Carnaval, não tenho dúvida disso. Agora, de qual direita a gente está falando? Se for a extrema-direita, essa certamente não gosta de Carnaval", completa.

Política em blocos de rua

Houve manifestações políticas evidentes em blocos de rua no Carnaval em 2019, 2018 e 2017. No primeiro ano, foliões entoaram também "Lula livre" nos blocos Jegue Elétrico, em São Paulo, Mamá na Vaca, em Belo Horizonte, Filhos e Filhas de Marx, em Salvador, e Desce mas Não Sobe e Bagunça Meu Coreto, no Rio de Janeiro. Naquela época, o petista estava preso, por ter sido condenado, em segunda instância, no caso do tríplex do Guarujá.

Em 2018, em um bloco em Salvador, foliões entoaram "fora, Temer", em protesto contra o então presidente Michel Temer (MDB), e, na sequência, "olê, olê, olá, Lula, Lula". Em Santa Cruz (RN), Os Lulas e as Marisas homenageou o então ex-presidente e a ex-primeira dama Marisa Letícia com bonecos gigantes de ambos. A então senadora e agora governadora Fátima Bezerra (PT-RN) participou. Em Belo Horizonte, no bairro Santa Tereza, o bloco Ai, Que Saudade do Meu Ex também homenageou Lula; foliões entoaram "volta, Lula", e um carregava uma foto do petista.

Em 2017, um boneco gigante do presidente Michel Temer foi levado a desfiles em Olinda e no Recife. Naquele ano também, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, foi realizado o bloco Fora Temer.

Autoridades no Carnaval

O presidente Lula viajou a Salvador na 6ª feira (17.fev). Ele passará o Carnaval na Base Naval de Aratu, na Praia de Inema. Esta era o destino favorito de Lula durante os seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010. Dentre os ministros do governo, a da Cultura, Margareth Menezes, comparecerá ao camarote do Galo da Madrugada, no Recife, e se apresentará no Camarote Expresso 2222, em Salvador, neste sábado (18.fev). No domingo (19.fev), desfilará com a escola Estação Primeira de Mangueira, na Sapucaí, no Rio de Janeiro. Já na 2ª feira (20.fev), participará do Carnaval de Porto Seguro (BA).

O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, deverá passar o Carnaval na Bahia. O da Educação, Camilo Santana passará em sua casa, no Ceará, descansando com a família. O dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, em sua casa em São Paulo. O Ministério do Turismo não informou se a titular da pasta, Daniela Carneiro, acompanhará algum desfile ou se possui alguma agenda para o período. Entretanto, Marcelo Freixo, o presidente da Embratur -- que é vinculada ao ministério --, vai à Sapucaí para acompanhar o desfile da Mangueira.

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