Brasileiro faz, em média, 3 consultas médicas ao ano
Estudo indica ainda que, apesar de serem maioria, médicas ganham 36% a menos do que profissionais homens
Simone Queiroz
Um levantamento divulgado, nesta 4ª feira (08.fev), pela Associação Médica Brasileira mostra que a média anula de consultar no país é menor do que a metade do índice mundial.
O Fábio é um dos milhares de brasileiros que têm ido menos ao médico do que de fato precisaria. Desde que sofreu um acidente de trabalho, que deixou sequelas na perna, ele deveria se consultar, periodicamente, com especialistas: ortopedista e cardiologista.
Mas, sabe quanto tempo ele espera para agendar? "De coluna, há mais de três anos. [Está na fila?] Estou na fila. [O que eles falaram para você?] Não justificam", conta o assistente administrativo Fábio Alves.
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Uma contradição com uma outra realidade: o Brasil tem hoje quase meio milhão de médicos especialistas, 84% mais que há uma década. Graças à oferta maior de vagas, 62% dos que terminam a faculdade fazem residência.
O número aumentou, mas não resolveu um problema crônico na oferta de saúde no país: a desigualdade. Os médicos se concentram, principalmente, nas capitais, o que gera um apagão de atendimento em algumas regiões.
Na região Norte, os brasileiros têm, em média, menos de 2 consultas por ano. O segundo pior índice é do Nordeste, seguido pelo Centro-Oeste. As regiões Sul e Sudeste são onde os pacientes têm mais chance de atendimento. A média nacional, de 3 consultas, é menos que a metade da registrada nos demais países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
O drama é maior. "Estão não só mal distribuídos, em relação ao território, mas também mais concentrados em serviços privados, que atendem a menor parte da população", explica o coordenador da Demografia Médica no Brasil, Mário Scheffer.
"A gente precisa de um sistema de saúde muito menos privatizado, sem o que a gente não vai conseguir prover atendimento às pessoas", acrescenta a pesquisadora da UFRJ, Lígia Bahia.
Os médicos Mateus e Cauã fazem residência no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde pretendem ficar.
"A gente acaba se subespecializando em algumas áreas mais específicas, que exigem um aparato tecnológico de profissionais que, realmente, no Brasil, se concentra muito aqui", argumenta o residente de Radiologia no HC, Mateus Esmeraldo.
"A minha primeira opção é manter minha estrutura familiar e de trabalho, aqui em São Paulo", afirma o residente de Radioterapia no HC, Cauã Bhering.
A Associação Médica Brasileira defende uma política de estado que estimule o médico a atender fora dos grandes centros. "É preciso uma carreira, como há uma carreira na magistratura. Ele quer ser remunerado consoante à sua dedicação, mas também precisa ter condição de trabalho, de moradia, de mobilidade na rua, carreira, como faz no Judiciário", conclui o presidente da associação, César Eduardo Fernandes.