Relatório aponta aumento nos casos de intolerância religiosa no País
Foram registrados 966 pelo Disque 100 em 2021
Eliabe Visa
O II Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe, organizado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas e pelo Observatório das Liberdades Religiosas, com apoio da Representação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, mostra que houve aumento dos casos de intolerância religiosa no País.
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Segundo o estudo, divulgado no âmbito do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, foram registrados 477 casos de intolerância religiosa em 2019, 353 casos em 2020 e 966 casos em 2021, considerando os dados do portal Disque 100, do Governo Federal.
Segundo a antropóloga e professora Francirosy Campos Barbosa, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, entretanto, houve muito mais ocorrências no período. "Do ponto de vista de quem trabalha com pesquisa científica e de quem tem acompanhado os casos diariamente no País, os números apresentados são muito pequenos. Não refletem necessariamente os casos de violência, porque mais de 99% dos casos as pessoas não registram boletim", afirma.
O estudo mostrou que o ano de 2020 apresentou o menor número de casos de intolerância religiosa entre os três anos. Como hipótese para esta diminuição, ressalta que 2020 foi marcado pela consolidação da pandemia da covid-19, "fato que impôs uma série de medidas restritivas de circulação e sociabilidade que podem ter contribuído para um menor número de casos de intolerância religiosa neste período".
Os dados do relatório indicam que as religiões de matriz africana, apesar de serem uma minoria religiosa, são as mais atingidas pela intolerância. Em 2020, houve 86 casos notificados de intolerância religiosa contra religiões de matriz africana, ante 244 em 2021. A especialista acredita que esses números podem ser duas ou mais vezes maiores. "Eu não conheço nenhuma pessoa candomblecista que não tenha sofrido violência religiosa", afirma.
De acordo com o relatório, os estados da região Sudeste, mais populosos, foram os que apresentaram o maior número de casos de intolerância religiosa. Os estados das regiões Norte e Centro-Oeste apresentaram menor número de casos.
Francirosy acredita que a mudança para diminuir a intolerância religiosa está em políticas públicas de educação. "Não conheço nenhuma mulher islâmica que não tenha passado por algum tipo de racismo religioso. A partir do momento que uma mulher passa a usar o lenço, ela passa a ser uma mulher racializada, que demarca a religiosidade dela. A violência e a intolerância religiosa é maior do que a gente imagina. A gente precisa educar, fazer campanha. A gente precisa construir políticas públicas e de educação para combater", declara.
Para a professora da USP, é possível trabalhar a questão histórica das religiões, intensificar os debates sobre a pluralidade das religiões. "A gente só combate a intolerância pelo viés da educação. Hoje tem forma de criminalizar e prender, mas se a gente não mexer na raiz para educar o povo para um país plural, se a gente não faz um trabalho de raiz de educar, não teremos um país plural, e aí a gente estará fazendo muito pouco para ampliar e produzir conhecimento", finaliza.
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