USP investiga ressurgimento de vírus que causa febre hemorrágica
Conhecido como SABV, infecções foram relatadas em São Paulo após mais de 20 anos
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital das Clínicas informaram, na 2ª feira (20.jun), que começaram a investigar o ressurgimento do vírus sabiá (SABV) no Brasil, responsável por desenvolver casos de febre hemorrágica. As últimas ocorrências da doença foram diagnosticadas em 2019, mais de 20 anos após as primeiras infecções notificadas no país.
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Os dois novos casos detectados, chamados no estudo de "Caso A e Caso B", ocorreram nas cidades de Sorocaba e Assis, no interior de São Paulo, e ambos os pacientes foram admitidos em unidades de saúde com hipótese diagnóstica de caso grave de febre amarela.
O primeiro foi um homem de 52 anos que havia caminhado pela floresta na cidade de Eldorado e passou a apresentar sintomas como dor muscular, dor abdominal e tontura. No dia seguinte, ele desenvolveu conjuntivite, sendo medicado em um hospital local e depois liberado. Após quatro dias, foi internado novamente com sangramento significativo e insuficiência renal, vindo a falecer dois dias depois.
O Caso B refere-se a um homem de 63 anos, trabalhador rural de Assis, que apresentou febre, mialgia generalizada, náusea e prostração. Os sintomas pioraram e oito dias depois ele foi admitido no hospital com depressão do nível de consciência e insuficiência respiratória com necessidade de intubação. Ele faleceu 11 dias após o início dos sintomas.
Para realizar os diagnósticos, os cientistas utilizaram a técnica metagenômica, que permite identificar vírus ainda desconhecidos. Ao relacionar o material encontrado nos pacientes com outros tipos de vírus e verificar a compatibilidade da descoberta com a prática clínica, determinou-se que se tratava do SABV.
Na análise das duas infecções do estudo, os pesquisadores identificaram sintomas análogos aos registrados nos casos da década de 90. "A parte clínica é muito parecida com o que já havíamos visto antes, e entre os dois novos casos, a manifestação também foi muito similar", explica a médica Ana Catharina Nastri, da da Divisão de Doenças Infecciosas do Hospital das Clínicas.
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Segundo ela, em todos os casos houve um comprometimento significativo do fígado e de órgãos associados à produção de células de defesa, o que pode ter facilitado o surgimento de infecções secundárias, tornando o diagnóstico inicial mais complexo. A doença, no entanto, não foi encontrada durante o rastreamento de contatos, mostrando que, com precauções habituais, como máscara e luva, não há transmissão.