Dom Phillips, 57 anos, morreu ao defender a Amazônia
Jornalista viajava pela floresta para escrever o livro: "Como Salvar a Amazônia"
Pablo Valler
Dom Phillips foi criado em Bebington, cidade a 8 km ao sul de Liverpool, na Inglaterra. Ainda adolescente, tocava instrumentos e cantava pelas ruas para juntar trocados. A música foi sua primeira paixão. Tanto que a levou para a profissão que escolheu, de jornalista. Começou cobrindo festivais de música eletrônica e acabou se tornando editor de uma revista especializada, a Mixmag.
Já em 2007, escreveu um livro sobre a vida de DJs internacionais. Foi quando viajou ao Brasil a convite de amigos. Iria ficar alguns dias em São Paulo. Decidiu ficar. Viveu por um bom tempo no Rio de Janeiro, onde passou a praticar outro hobby, o esporte. Ciclismo, frescobol, stand up paddle. Nesse tempo foi freelancer em jornais britânicos, como o The Guardian, e norte-americanos, como The New York Times, Washington Post, Financial Times e The Intercept. Periódicos que demandavam histórias sobre a floresta mais famosa do mundo, lugar por qual se apaixonou. O Brasil ainda o agraciou com aquela que o levaria a se mudar para a Bahia, Alessandra Sampaio.
Com as pautas, Dom passou a conhecer bem a Amazônia, assim como os povos indígenas. Fez várias viagens para áreas de conflito e ficou conhecido na região. Em uma dessas experiências teve a ideia do livro "Como Salvar a Amazônia", que foi selecionado para uma bolsa na fundação norte-americana Alicia Patterson.
Há dois anos, Phillips se tornou alvo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Porque, em uma coletiva de imprensa, perguntou a respeito do desmatamento na Amazônia.
Bolsonaro respondeu: "Primeiro, vocês têm que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês. A primeira resposta é essa daí", e saiu do evento.
Depois disso, Phillips passou a ser reconhecido por grupos da região amazônica como "o jornalista que levou um esporro do Bolsonaro", e já não era mais bem-vindo em qualquer lugar, como relatou a mulher nas redes sociais, e o próprio Bolsonaro ao falar sobre o assunto nesta 4ª feira (15.jun): "ele era malvisto [por garimpeiros]".
Dom sumiu no dia cinco de junho, quando fazia uma expedição pelo Vale do Javari, região no oeste da Amazônia, perto da fronteira com o Peru.