Veja o que diz relatório da PF sobre crime no Amazonas
Documento enviado ao STF cita Amarildo e Oseney por eventual envolvimento em desaparecimentos
A Polícia Federal aponta "fortes elementos indiciários" de que os irmãos Amarildo Oliveira, o Pelado, e Oseney Oliveira, o Dos Santos, "podem estar envolvidos no desaparecimento" do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, no Vale do Javari, no Amazonas.
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Os dois estão presos temporariamente em Atalaia do Norte (AM), por ordem da Justiça. A busca pelos desaparecidos entrou nesta 4ª feira (15.jun) no 11º dia. O STF determinou, na 3ª feira (14.jun), a criação de um grupo de trabalho para acompanhar as buscas.
"Em 12 de junho de 2022 foi dado prosseguimento à busca fluvial e ao reconhecimento aéreo na região do Rio Itaquaí, especialmente na área onde foi encontrada uma outra embarcação aparentemente de propriedade de Amarildo da Costa Oliveira, que se encontra com prisão temporária decretada por conta dos fatos", relata a PF.
O documento de 38 páginas, ao qual o SBT News teve acesso, está anexado à resposta enviada pelo superintendente da PF no Amazonas, delegado Eduardo Alexandre Fortes. E encaminhada ao STF pelo diretor-geral da PF, Marcio Nunes de Oliveira, nesta 4ª feira.
"Desde o início da operação estão sendo realizadas incursões no rio Itaquaí, na altura da 'Boca do Ituí' até Santa Cruz, com diligências nas comunidades ribeirinhas e municipais, bem como sobrevoo da região em aeronaves da Marinha e do Exército", relata.
São "empregados aproximadamente 250 servidores públicos, dentre os policiais e militares, com a utilização de 2 aeronaves, 3 drones, 16 embarcações e 20 viaturas. Além do trabalho ostensivo, há um forte levantamento de informações de inteligência sendo realizado com vistas ao cabal esclarecimento do caso".
O relatório da PF traz relatos de testemunhas, imagens das buscas, do material periciado e dados que levaram às prisões temporárias dos irmãos Oliveira, presos temporariamente como suspeitos.
Em um dos registros, a polícia detalha como refez o trajeto entre o local onde foram encontrados documentos pessoais de Pereira e Phillips e a casa de um dos suspeitos. Também narra ameaças que o indigenista teria sofrido.
"Uma testemunha com identificação protegida prestou depoimento à Polícia Federal", registra. "A testemunha relatou que ouviu Bruno dizer que estava sendo ameaçado por pessoas que não aceitavam as atividades de combate às ilegalidades recorrentes contra indígenas da região. Entre as ameaças recebidas por Bruno, algumas delas foram proferidas por 'Pelado', indivíduo tempos atrás teria efetuado disparos de arma de fogo contra a base local da Funai e, recentemente, ameaçado os 'vigilantes' da região ostentando uma arma de fogo do tipo espingarda."
A polícia prendeu na 3ª feira (14.jun) Oseney da Costa de Oliveira, o segundo suspeito que está sendo interrogado e passará por audiência de custódia. Além da prisão temporária do suspeito, a polícia apreendeu em Atalaia do Norte, a pedido do Poder Judiciário, cartuchos de arma de fogo e um remo, que serão analisados.
Seu irmão Amarildo da Costa de Oliveira foi preso uma semana antes, no dia 7. O relatório da PD informa que no dia 9 "policiais localizaram a embarcação de 'Pelado' e, após verificarem a presença de manchas avermelhadas, apresentaram à Polícia Civil". "Peritos criminais verificaram a presença de material orgânico reativo ao luminol, que reage com o sangue, emitindo uma luz."
O relatório registra ainda que foi encontrado pela Marinha material que sugere ser restos de um estômago, que estava nas águas do rio. O material está sendo periciado e comparado ao material genético dos desaparecidos.
Pelado foi ouvido pela polícia. Segundo o relatório, negou envolvimento com o desaparecimento do indigenista e do jornalista. "Declarou ser pescador há mais de 30 anos na área do rio Itaquaí, do ponto da base da Funai até o trecho do rio da comunidade São Gabriel, onde mora há 10 anos. Disse que não possui arma de fogo, pois há muita fiscalização da polícia peruana na região de Islândia/PE, e que conhece o Bruno, servidor licenciado da Funai, apenas de vista."
O principal suspeito "afirmou que nunca conversou" com o indigenista, mas disse tê-lo visto no domingo, dia do desaparecimento. "Reconheceu ter visto Bruno no último domingo, 5/6/2022, enquanto ele passava de barco em frente à Comunidade São Gabriel, onde mora, porém, negou ter saído de casa durante todo o dia, permanecendo o barco parado até segunda-feira, quando saiu para caçar porcos."
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