No AC, verba de combate a enchentes foi para mercado de primo do governador
Em 2021, um atacadão da família Cameli recebeu R$ 832 mil destinados à contenção de desastres
O prefeito do município acreano de Cruzeiro do Sul, Zequinha Lima (PP), gastou R$ 832 mil no supermercado Atacarejo Cameli, que é registrado no nome de Liana e Racene Cameli, este último mais conhecido como Manu Cameli. Os dois são primos do governador do estado, Gladson Cameli (PP).
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A verba foi transferida pelo governo federal para atender cerca de 5 mil famílias que foram assoladas pela enchente do Rio Juruá em fevereiro de 2021.
A União repassou, por meio da Defesa Civil Nacional, mais de R$ 8,16 milhões para o enfrentamento dos danos causados pelas inundações no estado do Acre.
Desse montante, mais de R$ 3 milhões foram destinados a Cruzeiro do Sul, cidade natal do governador do estado.
O registro de gastos do Cartão de Pagamento de Defesa Civil (CPDC), vinculado ao prefeito do município, revela duas despesas favorecendo a Atacarejo Cameli: a primeira, no valor de R$ 374.400 -- no dia 15 de abril de 2021 -- e a segunda, no valor de R$ 457.600, em 13 de maio do mesmo ano.
O cartão corporativo é um meio de pagamento exclusivo para despesas com ações de resposta a emergências e calamidades públicas, que compreendem socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços essenciais.
O governo do Acre, questionado sobre a proximidade do governador com os donos do supermercado em Cruzeiro do Sul, negou qualquer tipo de preferência na escolha pelo estabelecimento.
"Apesar da relação parental do governador Gladson Cameli com os empresários e do apoio político ao prefeito de Cruzeiro do Sul, Zequinha Lima, o estado, em nenhum momento, teve influência na escolha das empresas citadas", afirma, em nota.
Sobre os gastos, o governo acreano destaca que, em 2021, houve "um dos maiores eventos" já ocorridos no estado. "A Defesa Civil do Estado e a Defesa Civil dos municípios atingidos pela cheia dos rios trabalharam intensamente", aponta a nota. Segundo o governo, a Defesa Civil de Cruzeiro do Sul e a prefeitura fizeram o levantamento e definiram a aquisição e distribuição dos mantimentos para dar suporte às famílias.
Procurados pelo SBT News, o Atacarejo Cameli e a prefeitura de Cruzeiro do Sul não responderam ao contato até a mais recente atualização desta reportagem.