20% dos rios da Mata Atlântica são impróprios para consumo e agricultura

Em mais um Dia Mundial da Água, celebrado em todos os 22 de março desde 1993, o Brasil tem poucos motivos para festejar. Menos de 7% dos rios da Mata Atlântica possuem água em boas condições para consumo, indica levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica. 

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Ao todo, foram coletadas 615 amostras em 90 rios distintos em 16 estados brasileiros*, onde 73% obtiveram índices regulares e 20% foram avaliados como ruim ou péssimo, portanto, sem condições para uso na agricultura, indústria ou abastecimento humano. Nenhum ponto foi identificado como ótimo. O estudo foi realizado entre janeiro e dezembro de 2021.

A pesquisa é realizada anualmente e, em relação ao ano anterior, os resultados pouco mudaram. Dos 146 pontos de coleta, a qualidade da água se manteve em 88, enquanto piorou em 45 e melhorou em apenas 13.

Na avaliação de Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios, o retrato da qualidade nas bacias da Mata Atlântica é um alerta para a condição ambiental da maioria dos rios nos estados do bioma. 

"A qualidade regular da água obtida em mais de 70% dos pontos monitorados demanda atenção especial dos gestores públicos e da sociedade, indicando, ainda, a condição frágil dos recursos hídricos, especialmente neste momento de emergência climática e de pandemia, quando aumenta a demanda por água limpa. As populações mais pobres sempre são as mais afetadas pelas deficiências de estrutura de atendimento ao fundamental, como água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos e manejo de águas de chuva, os pilares do saneamento básico", explica. 

A água do lago no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, por exemplo, passou de regular para boa. Há relatos sobre o reaparecimento de peixes no local. Outra evolução semelhante pôde ser notada no córrego Paquera, em Ilhabela, litoral paulista, após o local passar por obras de saneamento básico.

No Brasil, o acesso à água potável é um direito fundamental garantido pelo Projeto de Emenda à Constituição nº 06/21, aprovado pelo Senado Federal em março do ano passado, além de ser um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030 determinado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Coleta de esgoto

Ao menos 100 milhões de brasileiros não têm acesso à coleta de esgoto, enquanto mais de 35 milhões vivem sem água tratada em todo o país. Os dados foram divulgados pelo Instituto Trata Brasil.

A análise engloba informações dos 100 municípios mais populosos, responsáveis por concentrar aproximadamente 40% da população no território nacional. 

De acordo com os dados, a cobertura do líquido tratado registrou aumento de 93,5% para 94,4% entre os anos de 2019 e 2020, bem como a população com acesso à coleta de esgoto, passando de 74,5% para 75,7%. O número, no entanto, ainda é baixo, uma vez que a perda de água na distribuição aumentou de 35,7% para 36,3%.

Entre os municípios brasileiros, Macapá, capital do Amapá, lidera o ranking de pior localidade com acesso a saneamento básico. O município é seguido por Porto Velho, em Rondônia, Santarém, no Pará, Rio Branco, no Acre, Belém e Ananindeua, no Pará, todos na região Norte. 

Por outro lado, entre as seis cidades com melhores índices, quatro são do Estado de São Paulo: a melhor colocada Santos, no litoral, Franca e Limeira, no interior, e a própria capital. Uberlândia, em Minas Gerais, e São José dos Pinhais, no Paraná, completam a lista.

*Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.