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Educação: evasão escolar deve afetar gerações

Cerca de 244 mil estudantes de 6 a 14 anos ficaram fora das escolas brasileiras no segundo trimestre de 2021

Educação: evasão escolar deve afetar gerações
Educação e tecnologia (unsplash)
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O vazio define os 121 dias que as crianças ficaram fora da escola. Quase dois anos depois do início da pandemia, as aulas não voltaram ao normal para mais de 400 milhões de estudantes no mundo, de acordo com o relatório A path to recovery, em tradução livre, Um caminho para a recuperação, iniciativa conjunta de Unesco, Unicef e Banco Mundial publicada neste mês de dezembro.

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Em números ainda mais amplos, segundo o relatório, o fechamento das escolas afetou 1,6 bilhão de crianças em 188 países. O ensino remoto ou híbrido apresentou resultados insatisfatórios, e a perda de aprendizado foi brutal. O documento estima em US$ 17 trilhões, ou 14% do PIB mundial, as perdas ao longo da vida dos afetados pela fragilidade no ensino. Obviamente, os danos não se resumem ao custo econômico. 

Para o deputado, presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, Israel Batista (PV- DF), "nós vivemos uma situação de falta de coordenação nacional, o Brasil voltou ao estado de evasão escolar de 2001".  Ainda de acordo com o parlamentar, "nós chegamos a mais de 5.1000 milhões crianças fora da escola agora nesse ano pós pandemia no país". Para ele, é importante que aja uma coordenação nacional para resgatar esses estudantes.  

Ao todo são cerca de 244 mil estudantes de 6 a 14 anos que estavam fora das escolas brasileiras no segundo trimestre deste ano, segundo levantamento divulgado pelo movimento Todos Pela Educação. Houve um aumento de 171,1% em comparação com o mesmo período de 2019, quando o problema afetava cerca de 90 mil estudantes da mesma faixa etária. "Em termos relativos, o percentual de crianças e jovens nesta faixa etária que não estavam frequentando a escola era de 0,3% em 2019 e passou para 1% em 2021, sendo a maior taxa observada nos últimos 6 anos", diz nota técnica do movimento. Os dados foram analisados a partir das informações da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, divulgada pelo IBGE. 

Entre casos levantados em dezenas de países, o exemplo de São Paulo é explorado a fundo. Desde o início da pandemia, avalia o relatório da Unesco, Unicef e Banco Mundial, as crianças paulistas aprenderam apenas 27,5% do que teriam aprendido com aulas presenciais. Pelos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), recuaram ao nível de 14 anos atrás em matemática e de 10 anos em português. 

O cenário do estado de São Paulo pode ser considerado até privilegiado em relação ao resto do país. No resto do mundo, o drama se repete: Índia, Rússia, Indonésia, Paquistão, Nigéria, Uganda, Estados Unidos, Holanda, Itália, Reino Unido, onde quer que tenha havido ensino remoto, houve queda no aprendizado. Uma exceção foi o Uruguai. Por lá, duas iniciativas contribuíram para mitigar as perdas: o investimento (anterior à pandemia) na conectividade digital para todos os estudantes e a retomada mais rápida das aulas presenciais, sobretudo em zonas rurais e populações vulneráveis. Mesmo a reabertura parcial resultou em perdas menores no Brasil. 

O relatório sugere a ampliação de carga horária à revisão de metodologia e pedagogia, para resgatar com urgência a evasão escolar dos países afetados. Além de entender com urgência a questão abordada, o relatório aconselha prioridade imediata no assunto, não apenas por parte dos ministérios e secretárias estaduais e municipais de educação, mas de todos os candidatos que tentarão conquistar o voto dos brasileiros nas urnas em 2022.  

Segundo o documento, "ignorar a evasão seria cometer um novo crime contra as mesmas vítimas: nossas crianças e nosso futuro".  

Para o chefe de Gabinete da Secretaria da Educação da rede estadual de São Paulo, Henrique Pimentel, "para o futuro, o que a gente quer é uma escola com estudantes mais protagonistas". Ainda de acordo com o chefe de gabinete, a pandemia trouxe ganhos em termos de inclusão digital, dos estudantes e dos professores. 

"Foram com certeza os dois últimos anos, que a Secretaria mais investiu em tecnologia, tanto em tecnologia no sentido físico da coisa: compra de equipamentos, mas também nos softwares, na criação dos centros de mídia", afirma o servidor.  

Já para Professor Israel, a recente queixa dos gestores de que eles não conseguem gastar o mínimo de 25%, determinado pela constituição em educação, "é uma queixa injusta, porque existem muitos problemas para serem resolvidos na educação".   

Para o parlamentar, as escolas não foram preparadas para receber os alunos no retorno as aulas. "Nós ainda temos escolas sem internet, ainda temos escolas sem banheiros, sem esgoto, sem sabonete nos banheiros, sem álcool em gel, sem possibilidade de distanciamento social, e nós temos professores, como a categoria que tem os menores salários dentre todas as categorias de níveis superiores no Brasil."   

Segundo o deputado, "não há sobras de verbas da educação, há falta de competência, falta de gestão pública, esse é o problema que a gente enfrenta".  

"Eu sou relator da política nacional de educação digital, e o governo não queria que o projeto avançasse, porque dizia que não tem fonte de financiamento, fonte de recursos, para fazer a política de educação digital funcionar no país, mas eu não tenho dúvidas de que o assunto é muito importante e precisa ser tratado e que existem recursos, sim", dispara o deputado e professor Israel Batista.  

Para o deputado, "se não existisse (a verba), os prefeitos não estariam reclamando de não conseguirem gastar os 25% que constituição determina do orçamento que devem ser gastos em educação".  

O servidor Henrique Pimentel afirma que o desenvolvimento e investimento em tecnologia "ajudou muito a gente a resolver a questão do ensino a distância e do ensino também agora". Para ele, usar as ferramentas digitais para agregar dentro dos projetos pedagógicos de cada escola, é o que fará de 2022 um ano muito importante para "a recuperação da aprendizagem".

Tecnologia 

Para atender às necessidades dos estudantes é impossível não falar em inovação. Tablet, smartphone, smartwatch e outras tecnologias são ferramentas essenciais para construir novas possibilidades de ensino para os jovens do século 21.  

Com as escolas fechadas por conta da pandemia mundial causada pelo coronavírus, o Ministério da Educação (MEC) se viu obrigado a autorizar a substituição de outras disciplinas presenciais por aulas a distância. Com essa autorização, atividades de Ensino a Distância (EAD) passaram a contar como dias letivos, mesmo para alunos dos Ensinos Infantil, Fundamental e Médio. 

Ana Paula Yazbek, diretora pedagógica e sócia do Espaço Ekoa, explica que, as tecnologias usadas de forma corretamente podem ajudar na aprendizagem dos alunos, mas com supervisão e orientação. Para Ana, "o uso da tecnologia foi necessário para manter o vínculo com os alunos".  

"Na escola de educação infantil, a tecnologia pode ser usada de diferentes maneiras: acesso a algum tipo de informação, a consulta, vídeos que tenham haver com algum projeto de pesquisa que as crianças estejam fazendo", afirma a educadora.  

Para o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), os desafios e estratégias para a continuidade da aprendizagem em tempos de covid-19 reúne experiências de diversos países, mostrando como cada um deles conseguiu prosseguir com as aulas, mesmo diante do fechamento das escolas durante a pandemia. 

A partir do reprocessamento dos dados da pesquisa de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) Educação 2020 referentes às escolas públicas e discutidos no Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), a falta de dispositivos como computadores e celulares e de acesso à internet nos domicílios dos alunos foi um desafio para 93% escolas públicas no Brasil (o que corresponde a 94 mil instituições). Outro desafio para o uso de recursos de tecnologia em atividades pedagógicas foi a falta de habilidades dos professores, citada por 63% das escolas públicas. 

Para o Professor Israel Batista, durante a pandemia da covid, viveu-se no Brasil um apagão do Ministério da Educação. "Infelizmente não houve uma coordenação nacional que orientasse os estados e municípios para se prepararem para o período pós pandemia, quando a educação hibrida se tornaria realidade no país?, afirma o político 

Ainda segundo o parlamentar, a infraestrutura das escolas não melhorou em todos os lugares do país. As comunidades mais carentes da escola, continuam sendo um espaço de depredação, um espaço em que os estudantes não se sentem prestigiados, espaços que não demostram a importância que a educação tem para o desenvolvimento do país. Batista conclui que "o conflito entre os poderes, impediu a ampliação da infraestrutura das escolas brasileiras.  

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