Cortejo ecumênico marca lançamento de memorial às vítimas da covid-19 em SP
Cataventos serão distribuídos neste domingo (3.out) para simbolizar as vidas perdidas na pandemia
Isabela Salles
Com o país se aproximando da marca de 600 mil vidas perdidas para a covid-19, a prefeitura de São Paulo promove, neste domingo (3.out), um cortejo ecumênico para homenagear as vítimas da doença. A cerimônia ocorrerá no entorno da Praça Franklin Roosevelt, na Região Central da cidade.
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O evento acompanha a instalação do Memorial da Despedida, idealizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e que ficará disponível para visitação até 2 de novembro, feriado de Finados. Nessa data, a população poderá levar para casa o catavento correspondente a uma pessoa que partiu para completar seu próprio ritual de despedida.
Fundadoras do projeto Flores para Heróis, Margot Pavan e Luly Vidigal contam que o Memorial foi inspirado no National Covid Memorial Wall, em Londres, na Inglaterra. "Queríamos viabilizar o memorial como flores, que, apesar de deslumbrantes, são efêmeras, como foi a vida de muitos dos nossos queridos que partiram", contou Luly.
Margot relata que queria deixar "uma mensagem de amor e esperança" a todos aqueles que não puderam se despedir de seus entes queridos. Para isso, foram pintados 60 mil corações, cada um deles representando 10 brasileiros que perderam suas vidas por causa da covid-19. Segundo ela, a imagem da criança soprando o catavento foi escolhida para simbolizar o sopro da vida olhando para o futuro, com afeto. "O vento que leva e transforma a dor", explicou.
A partir deste sábado (2.out), o memorial artístico temporário composto por 38 mil cataventos estará instalado na praça, representando todas as vidas paulistanas perdidas para a doença.
A escola de samba Vai-Vai, tradicional da região do Bixiga, foi a responsável por confeccionar as peças com material reciclado adquirido junto à cooperativa Recifavela, da região de Vila Prudente. O diretor de Barracão da agremiação, Spencer Oliva Berzenje, afirmou que a escolha do catavento ocorreu por alusão à vida sempre em movimento e que o mesmo tem uma relação com o carnaval. "Perspectiva aérea, relembrando decorações antigas do Arlindo Rodrigues", reiterou Spencer. O diretor ainda disse que foi solicitado à escola uso de um material sustentável, que respeitasse a questão socioambiental. Para a confecção da peça foram utilizadas caixas de leite.
Além dos cataventos, uma arte pintada em mais de mil metros de muros no local, assinada pelas artistas Negana e Carol Carreiro (Nina), completa a instalação. As artistas foram escolhidas pela experiência com pinturas de coração. "O mote foi o único possível: saudade, que é o que fica, além e depois da tristeza de perdermos tantas vidas. Cada coração simboliza uma vida que virou saudade", disse Carol sobre as pinturas.
Nos últimos 18 meses, medidas emergenciais de enfrentamento à pandemia têm limitado a realização de rituais fúnebres. O projeto Memorial da Despedida tem como objetivo não apenas fazer um tributo às pessoas que partiram, mas também oferecer uma oportunidade às suas famílias e amigos para que finalmente se despede com um ritual apropriado.
A diretora artística do memorial e representante do Luto pela Vida, Camila Appel, detalhou a importância do processo do luto e como o mesmo não deve ser solitário. "Rituais fúnebres existem para superar o luto, você compartilha uma dor", salientou. Camila refletiu sobre a privação dos rituais fúnebres e reforçou a necessidade do cortejo ecumênico no próximo domingo.
O cortejo, que acolherá amigos e familiares das vítimas, começará e terminará na própria praça, tendo início na face voltada para a Rua da Consolação. Durante o cortejo, estarão presentes representantes do catolicismo, protestantes/evangélicos, da deeksha, da fé bahai, do hare krishna, candomblecistas, umbandistas, grupos culturais de matriz africana, indígenas, espíritas, ocultistas, budistas, xamanistas, islamistas. Ao escurecer, velas serão acesas em tributo.