Entrevista: Geraldo Pereira Jotz

Existe o risco de interrupção de atividades?

Não existe esse risco, 0% de risco. Na verdade, no ano passado, quando começou a pandemia, a universidade foi se planejando ao longo do tempo, foi se planejando com o ensino remoto. [Contratos de] terceirizados foram renegociados, a universidade foi se adequando. Inclusive, a gente fechou o ano no azul. Sobrou um pouco de verba e, este ano, se permanecer o ensino remoto, não deveremos ter problema. A verba que estava contingenciada foi quase toda, cerca de 90%, liberada. De R$ 131 milhões, foram liberados R$ 108 milhões e não vemos risco de a verba restante não ser liberada. A UFRGS vai conseguir se manter tranquilamente, mas sempre de olho na gestão.

De quanto foi a redução no orçamento em relação ao ano passado?

R$ 30 milhões. Obviamente que, se o ensino fosse presencial, ia fazer falta, aí a gente teria que ir ao ministério renegociar. Com o ensino remoto, que está dentro do planejamento, não há risco [de interrupção de atividades].

Alguma atividade foi afetada por essa redução?

Não se diminuiu bolsa nenhuma, inclusive essa é uma prioridade do reitor. Só se priorizou as etapas as questões do ensino, mas não vai ser ter déficit em questões do ensino. 

Os cortes no orçamento de universidades não são recentes. De que modo vocês têm lidado com eles?

Recebíamos R$ 50 milhões a mais em 2016. Em 2016, tínhamos 28 mil alunos de graduação. Em 2020, tivemos matriculados 31 mil. A universidade foi se estruturando e cumprindo sua missão constitucional, que é aumentar a oportunidade. É isso que a gente tem feito e a antiga gestão, também de forma muito coerente, prioritária com os princípios que nos regem, também fez esse foco. Ao que interessa a sociedade, quanto mais vagas, melhor. A universidade se adequou a isso. Uma boa gestão também é inovação.

A que vocês creditam esse desempenho, dada a situação de outras universidades federais? 

Houve uma mudança no foco da gestão, priorizando investimentos, não gastando mais do que se pode. Não é porque você está numa instituição pública que vai empenhar mais e deixar para a União pagar Só se empenha aquilo que se tem. O reitor Carlos André [Bulhões Mendes] tem um ditado que diz ?vou investir onde eu tiver o maior número de beneficiários?. Se priorizou esses focos. O corte foi linear para todos [as universidades]. É o jogo administrativo, como empenha, como paga, a busca por emendas parlamentares. Tem uma série de questões que, cada vez mais, a universidade pública trabalha para a sociedade brasileira. Mas não quer dizer que buscando parcerias esteja privatizando. A inovação está nisso, na criatividade. Buscar parcerias que são boas para a universidade, para o parceiro e para a sociedade. A nossa universidade não está passando por sufoco e não vai passar.

Qual a sua avaliação sobre os cortes atuais?

É muito ruim numa questão mundial, onde as pessoas perderam emprego, pessoas vendem o almoço para comprar o jantar, ir pedir um real para a educação. Você está tirando do prato de comida. E a pessoa que não tem nem o prato de comida? O que é a prioridade? O prato de comida ou a educação? Na situação que se vive atualmente, todo o dinheiro que se tinha no mercado foi carregado para as classes sociais que são menos favorecidas. A solidariedade do povo brasileiro e a questão governamental de tentar carregar isso tem que estar priorizados. Neste momento, a alimentação da população, a vacinação e a saúde estão em primeiro lugar. A educação vem logo atrás. A educação é prioritária para o país, mas, neste momento, não.