Publicidade

Assassinato de juíza reflete violência estrutural, diz coordenadora da Ajufe

Coordenadora da Comissão Ajufe Mulheres comenta a morte de Viviane Arronenzi, 45 anos, esfaqueada pelo ex-marido diante das filhas na noite da última 5ª feira, véspera do Natal

Assassinato de juíza reflete violência estrutural, diz coordenadora da Ajufe
Magistrada Viviane Arronenzi, sorrindo
Publicidade
O assassinato da juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi, de 45 anos, reacendeu o sinal de alerta sobre o aumento no número de feminicídios no país e traz à tona como os crimes de violência doméstica ultrapassam as barreiras de raça, gênero e classe social. Para Tani Maria Wurster, coordenadora da Comissão Ajufe Mulheres, da Associação dos Juízes Federais do Brasil, esse cenário faz parte de um sistema complexo e de uma sociedade cujo pensamento patriarcal ainda predomina.  

Em entrevista ao SBT News, Tani ressaltou que o assassinato da magistrada evidencia como a violência contra mulher é um problema estrutural e que atravessa toda a sociedade. "A gente precisa pensar tanto nas relações individuais, no caso agressor e vítima, como também na estrutura. Sendo assim, a morte da Viviane não é só fruto de sua relação com o ex-companheiro", explica.

A coordernadora destaca ainda que dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revelam que a cada duas horas uma mulher é assassinada no Brasil. "Quando a gente tem informações dessa natureza, pode-se dizer, com razoável segurança, que a culpa dessas mortes não é só devido à violência do marido ou ex-companheiro. É resultado de toda uma estrutura que alimenta e naturaliza esse tipo de crime". 
 
Segundo Tani, é imprescindível que a análise desse sistema, que naturaliza crimes desse gênero, seja observada. "O sistema de Justiça precisa estar preparado para julgar e investigar esse tipo de processo. É essencial que haja uma capacitação dos agentes, do Ministério Público e de todo o Poder Judiciário para julgar e fazer cumprir todas essas penas", complementou. 
 

Relembre o caso


A juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) morreu na noite da última 5ª feira (24.dez), véspera de Natal, após ser esfaqueada pelo ex-marido, o engenheiro Paulo José Arronenzi, de 52 anos. Na ocasião, a vítima levava as três filhas do casal para celebrarem a data na casa do pai, quando foi surpreendida pelo homem. 
 
Saiba mais

Ainda segundo as autoridades responsáveis pelo caso, Viviane não resistiu aos ferimentos e morreu em via pública, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Anteriormente, a juíza havia denunciado o ex-companheiro, com quem foi casada durante 11 anos, por ameaças e agressões. À época, o TJRJ disponibilizou seis agentes armados para garantir a segurança da magistrada, que recusou a proteção a pedido de uma das filhas. 

A morte de Viviane Arronenzi provocou indignação e diversas autoridades se manifestaram publicamente a respeito do caso. Nas redes sociais, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, afirmou que o assassinato da juíza é "gravissímo" e revela como o feminicídio é "endêmico" no país. 


O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o ministro Luiz Fux, lamentou o ocorrido por meio de nota. Para Fux, o feminicídio da magistrada deixa em evidência o quão urgente é o debate sobre a violência doméstica no país, reiterando que o STF e o CNJ se comprometem a "desenvolver ações que identifiquem a melhor forma de prevenir e de erradicar" crimes dessa natureza no país. 

Já o ministro Humberto Martins, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Conselho da Justiça Federal (CJF), classificou o assassinato da juíza como "um ato brutal e repulsivo". O STF e o CNJ  também lamentaram o feminicídio em um comunicado conjunto, apelando para a criação de medidas que impeçam crimes bárbaros. 

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação dos Juízes Federais do Rio de Janeiro e do Espírito Santo (Ajuferjes), manifestaram pesar sobre o feminicídio e prestaram solidariedade à família da vítima. No texto, as entidades ressaltam que a violência doméstica no país tem "caratér endêmico" e, embora "atinja mais intensamente mulheres negras e pobres", é problema que afeta todas as mulheres. 

Em nota, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), lamentou profundamente a morte da juíza e afirmou que levará o caso ao Observatório Nacional sobre Questões Ambientais, Econômicas e Sociais de Alta Complexidade e Grande Impacto e Repercussão, que tem a atribuição de promover integração institucional, elaborar estudos e propor medidas concretas de aperfeiçoamento do sistema nacional de Justiça.
 

Aumento nos casos de feminicídio no Brasil


De acordo com um relatório produzido a pedido do Banco Mundial, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)os casos de feminicídio e violência doméstica sofreram um aumento de 22,2% nos primeiros meses de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019. 

Segundo os dados presentes no documento, o estado em que se observa o agravamento mais crítico é o Acre, onde o aumento foi de 400%. Na sequência, aparecem Maranhão (81,8%), Mato Grosso (157,1%),  Pará (75%)  e São Paulo (46%). 

O FBSP menciona, ainda, que houve um aumento de denúncias feitas por telefone, que, na comparação entre os meses de março de 2019 e 2020, foi de 17,9%.
 

Como denunciar casos de violência doméstica? 


Para denunciar crimes dessa natureza, basta entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher através do 180. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos. 

É possível realizar denúncias de violência contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), responsável pelo serviço. No site está disponível o atendimento por chat e com acessibilidade para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

portalnews
sbt-news
brasil
feminicidio
violencia domestica
juiza
camila-borges

Últimas notícias

Lula diz que o mercado a qual se preocupa “é o de 203 milhões de consumidores”

Lula diz que o mercado a qual se preocupa “é o de 203 milhões de consumidores”

Para o petista, o que existe nas reações do mercado é uma “especulação com derivativos na perspectiva de valorizar o dólar e desvalorizar o real"
Ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez é preso na Espanha

Ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez é preso na Espanha

Empresário tinha mandado de prisão expedido pela Justiça no âmbito da operação Disclosure; ex-diretora Anna Saicali segue foragida
Descriminalização da maconha: Por que o STF mencionou apenas plantas fêmeas?

Descriminalização da maconha: Por que o STF mencionou apenas plantas fêmeas?

Teto de 40 gramas ou seis plantas fêmeas será válido enquanto o Congresso Nacional não definir, em lei, outra quantia máxima
Mapa Mundi: como foi o primeiro debate eleitoral entre Biden e Trump nos Estados Unidos

Mapa Mundi: como foi o primeiro debate eleitoral entre Biden e Trump nos Estados Unidos

SBT News mostra ex-presidente partindo para ofensiva e atual chefe do Executivo norte-americano adotando tom ameno
Google Tradutor agora traduz para 233 novas línguas e dialetos

Google Tradutor agora traduz para 233 novas línguas e dialetos

Antes da atualização, ferramenta traduzia "apenas" 133 idiomas. Empresa usou IA PaLM para melhorar aplicativo
 Rio de Janeiro tem tiroteio em operação da polícia

Rio de Janeiro tem tiroteio em operação da polícia

Dois moradores do Complexo da Penha foram baleados e socorridos para o Hospital Estadual Getúlio Vargas
Mega-Sena acumula e chega a R$ 110 milhões; veja os números sorteados

Mega-Sena acumula e chega a R$ 110 milhões; veja os números sorteados

Quina teve 100 apostas ganhadoras, que vão receber mais de R$ 46 mil cada
Justiça autoriza soltura de suspeitos por divulgar e faturar com "jogo do tigrinho"

Justiça autoriza soltura de suspeitos por divulgar e faturar com "jogo do tigrinho"

Ambos estavam presos no Paraná desde maio; considerado foragido pela Interpol comemorou soltura de comparsas
Motorista da Porsche: Justiça realiza primeira audiência de Fernando Sastre nesta sexta-feira

Motorista da Porsche: Justiça realiza primeira audiência de Fernando Sastre nesta sexta-feira

Empresário dirigia em alta velocidade o carro de luxo, quando bateu e matou o motorista de aplicativo Ornaldo Viana
Moraes volta a cobrar regulamentação de redes sociais e pede "declaração do direito à boa informação"

Moraes volta a cobrar regulamentação de redes sociais e pede "declaração do direito à boa informação"

Ministro do STF citou como exemplo Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, e avalia que é necessário documento semelhante para combater desinformação
Publicidade
Publicidade