Brasil
Número de usuários na cracolândia mais do que dobra durante a pandemia
Segundo relatório da prefeitura obtido pelo SBT News, fluxo foi de 500 para 1.200 pessoas
SBT News
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A abordagem a usuários de drogas feita por assistentes sociais da Prefeitura de São Paulo na cracolândia caiu 30,7% entre março e novembro deste ano, meses marcados pela pandemia de coronavírus. No mesmo período, um documento assinado pelo médico Arthur Guerra, responsável pelo programa anticrack da administração municipal, informa que o número de pessoas no chamado fluxo aumentou de 500 para 1.200.
No documento obtido com exclusividade pelo SBT News, Guerra informou a secretaria da Saúde em julho que o aumento de usuários na cracolândia é comprovado pelo abandono de tratamentos nos dois equipamentos criados recentemente pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), SIAT Armênia e Glicério, que tiveram queda de ocupação entre 20 e 30%. A informação foi repassada por Guerra para justificar a necessidade de fechar leitos psiquiátricos conveniados com a prefeitura diante da baixa procura por internação. "Acreditamos, que o baixo número de encaminhamento aos hospitais, se dá ao aumento de pacientes que se encontram no fluxo da cracolândia (em média eram 500 usuários e aumentou para 1200), fato este comprovado pelo número de ausências e abandonos de tratamentos no SIAT II Armênia e Glicério que registraram queda da taxa de ocupação em 20 e 30% respectivamente", escreveu Guerra.
Em nota, a prefeitura não negou o aumento na concentração de usuários e afirmou que registrou queda de 28,6% de pessoas somente durante a manhã, sem citar os demais períodos do dia. "O programa [antidrogas] é uma letra morta para a prefeitura, eles não levam a sério o seu próprio programa. E a região da cracolândia ficou praticamente desassistida de um ano para cá, principalmente de um ano para cá", diz o promotor de Saúde Pública Arthur Pinto Filho.
Durante os meses de pandemia, as abordagens feitas por assistentes sociais, que tentam convencer os usuários a procurar tratamento ou vagas nos abrigos municipais, teve queda. A partir de março, quando começou a aumentar os casos de coronavírus na capital, a média mensal de abordagens que ficava entre 3 mil e 7 mil baixou para 2 mil a 3 mil. O mês de julho deste ano registrou o número mais baixo de abordagens em dois anos, 1.698, segundo dados fornecidos pela administração.
Nesta sexta-feira, uma operação foi montada pela prefeitura para demolir imóveis regulares na região da cracolândia. A ação ocorreu uma semana após a região ter sido palco de um arrastão que atacou motoristas que passavam pela região e comércios.
Veja abaixo na íntegra a nota enviada pela Prefeitura de São Paulo ao SBT News:
A Prefeitura Municipal de São Paulo informa que entre março e novembro de 2020, durante a pandemia de Covid-19, houve uma redução do número de pessoas na região da cena de uso aberto da Luz da ordem de 28, 69%, caindo de uma média de 568 para 405 pessoas no período da manhã. Considerando-se os meses de novembro de 2019 e novembro de 2020, a queda foi de 47,53%, baixando de uma média mensal de 772 para 405 pessoas no período da manhã.
Os dados informados são médias mensais de estimativas diárias de pessoas na região mais crítica da cena de uso aberto da Luz, no período matutino, coletadas a partir de fotos aéreas realizadas com drones e posterior aplicação do método de Jacobs, que relaciona a concentração de pessoas com a área ocupada.
A Prefeitura informa também que a redução do número de internações e fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Município fazem parte da estratégia do Município em conformidade com a Política Municipal sobre Álcool e outras Drogas, instituída em maio de 2019. Para intensificar as ações na região Central foi inaugurado em abril de 2020 o primeiro Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas do tipo IV (CAPS AD IV) da cidade de São Paulo, na Praça Princesa Isabel, voltado ao atendimento a pessoas de todas as faixas etárias com serviços de atenção contínua e funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e finais de semana.
O CAPS AD IV de São Paulo começou os atendimentos no dia 17 de abril de 2020 e até o dia 08 de dezembro de 2020 realizou 5.976 atendimentos, entre eles 485 encaminhamentos para internações voluntárias em leitos de desintoxicação em hospitais contratados, 161 encaminhamentos para leitos de prontos-socorros e hospitais municipais e gerais, 77 encaminhamentos para Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS-AD), 22 encaminhamentos para o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD) e 9 encaminhamentos para a rede de atendimentos sociais.
A Prefeitura esclarece ainda que em julho de 2020 foram realizados, a partir do CAPS AD IV, 41 encaminhamentos para internação em leitos de desintoxicação na rede e em hospitais contratados.
Já a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), informa que a cidade conta com os Programas Consultório na Rua e Redenção - este último coordenado pela Secretaria de Governo Municipal, que prestam assistência às pessoas que estão em situação de rua. Ambos os programas contam com participação e acompanhamento das equipes da Atenção Básica da SMS. De abril a novembro, 345 pessoas em situação de rua foram diagnosticadas com a Covid-19 e acompanhadas pelas equipes dos programas. Destas, 31 que estavam hospitalizadas, infelizmente, foram a óbito.
A PMSP possui 26 equipes de Consultório na Rua (eCR), distribuídas nas seis Coordenadorias de Saúde da cidade, e oito equipes Redenção na Rua (eRNR), atuantes no Centro da cidade. As equipes trabalham no âmbito da Atenção Básica, promovendo a ampliação do acesso e da assistência em saúde ao público atendido. As equipes são constituídas por profissionais de diferentes formações: médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, assistente social, psicólogo, agente da saúde de rua, agente social e administrativo e, em algumas unidades, cirurgião dentista e auxiliar de saúde bucal. Os profissionais realizam abordagem e acompanhamento em saúde em consultas, desenvolvem vínculo com as pessoas em situação de rua, orientando-as e mantendo a escuta qualificada, além de fazerem curativos e medicações, vacinação, entre outros procedimentos.
Para o enfrentamento da Covid-19, durante o período de pandemia, as equipes têm intensificado ações de abordagem com orientação sobre o novo Coronavírus, prevenção, sinais e sintomas da doença. Além disso, tem sido realizada uma busca ativa de sintomáticos em locais de maior concentração de pessoas em situação de rua e monitoramento dos suspeitos/confirmados, para posterior encaminhamento aos Centros de Acolhida. A distribuição de máscaras de tecido e itens de higiene, incluindo álcool em gel, também tem sido uma ação recorrente durante a pandemia.
Entre abril e novembro, as equipes de Consultório na Rua e Redenção na Rua realizaram 144.855 abordagens de pessoas em situação de rua, 26.997 consultas médicas e 55.973 avaliações multiprofissionais aos usuários cadastrados no programa.
Vale citar que o programa Consultório na Rua, da SMS em parceria com a ONG BOMPAR, venceu o prêmio Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19, idealizado pelo jornal Folha de São Paulo, em parceria com a Fundação Schwab, uma organização sem fins lucrativos com sede em Genebra. A premiação contempla as dez iniciativas de maior impacto social diante da pandemia do novo Coronavírus. Como reconhecimento, o programa Consultório na Rua passa a fazer parte do Banco de Boas Práticas da ONU 2021, que contempla organizações sociais combatentes da Covid-19 e pode, a partir de agora, receber investimento de diversos países, que serão direcionados à ajuda humanitária da população de rua.
VÍDEO - Assista à reportagem do SBT Brasil sobre o caso
No documento obtido com exclusividade pelo SBT News, Guerra informou a secretaria da Saúde em julho que o aumento de usuários na cracolândia é comprovado pelo abandono de tratamentos nos dois equipamentos criados recentemente pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), SIAT Armênia e Glicério, que tiveram queda de ocupação entre 20 e 30%. A informação foi repassada por Guerra para justificar a necessidade de fechar leitos psiquiátricos conveniados com a prefeitura diante da baixa procura por internação. "Acreditamos, que o baixo número de encaminhamento aos hospitais, se dá ao aumento de pacientes que se encontram no fluxo da cracolândia (em média eram 500 usuários e aumentou para 1200), fato este comprovado pelo número de ausências e abandonos de tratamentos no SIAT II Armênia e Glicério que registraram queda da taxa de ocupação em 20 e 30% respectivamente", escreveu Guerra.
Em nota, a prefeitura não negou o aumento na concentração de usuários e afirmou que registrou queda de 28,6% de pessoas somente durante a manhã, sem citar os demais períodos do dia. "O programa [antidrogas] é uma letra morta para a prefeitura, eles não levam a sério o seu próprio programa. E a região da cracolândia ficou praticamente desassistida de um ano para cá, principalmente de um ano para cá", diz o promotor de Saúde Pública Arthur Pinto Filho.
Durante os meses de pandemia, as abordagens feitas por assistentes sociais, que tentam convencer os usuários a procurar tratamento ou vagas nos abrigos municipais, teve queda. A partir de março, quando começou a aumentar os casos de coronavírus na capital, a média mensal de abordagens que ficava entre 3 mil e 7 mil baixou para 2 mil a 3 mil. O mês de julho deste ano registrou o número mais baixo de abordagens em dois anos, 1.698, segundo dados fornecidos pela administração.
Nesta sexta-feira, uma operação foi montada pela prefeitura para demolir imóveis regulares na região da cracolândia. A ação ocorreu uma semana após a região ter sido palco de um arrastão que atacou motoristas que passavam pela região e comércios.
Veja abaixo na íntegra a nota enviada pela Prefeitura de São Paulo ao SBT News:
A Prefeitura Municipal de São Paulo informa que entre março e novembro de 2020, durante a pandemia de Covid-19, houve uma redução do número de pessoas na região da cena de uso aberto da Luz da ordem de 28, 69%, caindo de uma média de 568 para 405 pessoas no período da manhã. Considerando-se os meses de novembro de 2019 e novembro de 2020, a queda foi de 47,53%, baixando de uma média mensal de 772 para 405 pessoas no período da manhã.
Os dados informados são médias mensais de estimativas diárias de pessoas na região mais crítica da cena de uso aberto da Luz, no período matutino, coletadas a partir de fotos aéreas realizadas com drones e posterior aplicação do método de Jacobs, que relaciona a concentração de pessoas com a área ocupada.
A Prefeitura informa também que a redução do número de internações e fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Município fazem parte da estratégia do Município em conformidade com a Política Municipal sobre Álcool e outras Drogas, instituída em maio de 2019. Para intensificar as ações na região Central foi inaugurado em abril de 2020 o primeiro Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas do tipo IV (CAPS AD IV) da cidade de São Paulo, na Praça Princesa Isabel, voltado ao atendimento a pessoas de todas as faixas etárias com serviços de atenção contínua e funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e finais de semana.
O CAPS AD IV de São Paulo começou os atendimentos no dia 17 de abril de 2020 e até o dia 08 de dezembro de 2020 realizou 5.976 atendimentos, entre eles 485 encaminhamentos para internações voluntárias em leitos de desintoxicação em hospitais contratados, 161 encaminhamentos para leitos de prontos-socorros e hospitais municipais e gerais, 77 encaminhamentos para Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS-AD), 22 encaminhamentos para o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD) e 9 encaminhamentos para a rede de atendimentos sociais.
A Prefeitura esclarece ainda que em julho de 2020 foram realizados, a partir do CAPS AD IV, 41 encaminhamentos para internação em leitos de desintoxicação na rede e em hospitais contratados.
Já a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), informa que a cidade conta com os Programas Consultório na Rua e Redenção - este último coordenado pela Secretaria de Governo Municipal, que prestam assistência às pessoas que estão em situação de rua. Ambos os programas contam com participação e acompanhamento das equipes da Atenção Básica da SMS. De abril a novembro, 345 pessoas em situação de rua foram diagnosticadas com a Covid-19 e acompanhadas pelas equipes dos programas. Destas, 31 que estavam hospitalizadas, infelizmente, foram a óbito.
A PMSP possui 26 equipes de Consultório na Rua (eCR), distribuídas nas seis Coordenadorias de Saúde da cidade, e oito equipes Redenção na Rua (eRNR), atuantes no Centro da cidade. As equipes trabalham no âmbito da Atenção Básica, promovendo a ampliação do acesso e da assistência em saúde ao público atendido. As equipes são constituídas por profissionais de diferentes formações: médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, assistente social, psicólogo, agente da saúde de rua, agente social e administrativo e, em algumas unidades, cirurgião dentista e auxiliar de saúde bucal. Os profissionais realizam abordagem e acompanhamento em saúde em consultas, desenvolvem vínculo com as pessoas em situação de rua, orientando-as e mantendo a escuta qualificada, além de fazerem curativos e medicações, vacinação, entre outros procedimentos.
Para o enfrentamento da Covid-19, durante o período de pandemia, as equipes têm intensificado ações de abordagem com orientação sobre o novo Coronavírus, prevenção, sinais e sintomas da doença. Além disso, tem sido realizada uma busca ativa de sintomáticos em locais de maior concentração de pessoas em situação de rua e monitoramento dos suspeitos/confirmados, para posterior encaminhamento aos Centros de Acolhida. A distribuição de máscaras de tecido e itens de higiene, incluindo álcool em gel, também tem sido uma ação recorrente durante a pandemia.
Entre abril e novembro, as equipes de Consultório na Rua e Redenção na Rua realizaram 144.855 abordagens de pessoas em situação de rua, 26.997 consultas médicas e 55.973 avaliações multiprofissionais aos usuários cadastrados no programa.
Vale citar que o programa Consultório na Rua, da SMS em parceria com a ONG BOMPAR, venceu o prêmio Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19, idealizado pelo jornal Folha de São Paulo, em parceria com a Fundação Schwab, uma organização sem fins lucrativos com sede em Genebra. A premiação contempla as dez iniciativas de maior impacto social diante da pandemia do novo Coronavírus. Como reconhecimento, o programa Consultório na Rua passa a fazer parte do Banco de Boas Práticas da ONU 2021, que contempla organizações sociais combatentes da Covid-19 e pode, a partir de agora, receber investimento de diversos países, que serão direcionados à ajuda humanitária da população de rua.
VÍDEO - Assista à reportagem do SBT Brasil sobre o caso
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