Líder indígena do povo Sateré-Mawé morre por covid-19
Amado Menezes Filho estava internado em um hospital na cidade de Parintins e denunciava falta de atendimento médico
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Amado Menezes Filho era um dos principais Tuxaua Geral das aldeias Sateré-Mawé. Foto: Danilo Mello/Foto Amazonas/Amazonia Real
Morreu na quinta-feira (15 out.), Amado Menezes Filho, 64 anos, vítima de Covid-19, no Hospital Regional Jofre Cohen, em Parintins, na região do Baixo rio Amazonas. Amado era Tuxaua Geral (líder) das aldeias Sateré-Mawé do Rio Andirá, no município de Barreirinha (Amazonas). Segundo o site Amazônia Real, Amado Menezes já deveria ter sido transferido para um hospital melhor equipado, em Manaus.
Menezes Filho vinha denunciando a retirada das equipes de saúde da Terra Indígena Andirá Marau. A última deixou a região em 31 de maio, devido a uma decisão do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI Parintins), que ordenou a saída dos funcionários e da ajuda logística de embarcação e combustível da barreira sanitária montada no rio Andirá. Tudo sob alegação de que não era o papel da instituição.
Em junho, Amado Menezes e outras lideranças protocolaram uma Nota de Repúdio contra a retirada da equipe e da barreira sanitária montada em uma força-tarefa entre indígenas e órgãos públicos. Sem estes profissionais especializados, o número de casos passou de 30 para 164 casos no território até então.
Amado Menezes foi diagnosticado com o coronavírus em 23 de setembro, no Hospital Regional Jofre Cohen, em Parintins. De lá, esperava o cumprimento de uma determinação judicial para conseguir uma transferência para uma UTI em Manaus, capital do Amazonas. Este atraso foi fatal para Amado Menezes, seu quadro clínico se agravou e ele não resistiu.
Amado Menezes foi uma liderança histórica da luta do povo Sateré-Mawé pela demarcação da Terra Indígena Andirá Marau, nos municípios amazonenses de Barreirinha, Maués e Parintins, na região do Baixo Rio Amazonas. Parte do território, que foi homologado em 1986, abrange também parte dos municípios de Aveiro e Itaituba, no Pará. O líder indígena também lutou contra a exploração de petróleo dentro da TI Andirá Marau.
Luta contra barreiras sanitarias improvisadas
Em uma de suas últimas lutas, o líder indígena enfrentava a a prática da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) de considerar uma barreira sanitária a colocação de placas de advertência e fitas de isolamento. O plano que prevê a instalação de barreiras sanitárias nas aldeias, para conter o avanço da covid-19, deixa de fora 70% das terras indígenas.
No entanto, apenas 163 das 537 terras indígenas (exceto povos isolados) são beneficiados pelas medidas determinadas pelo STF. Isso aconteceu devido ao envio pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) ao Supremo Tribunal Federal (STF), como desdobramento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, movida pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Leia abaixo a nota de pesar do filho Elias Menezes, que foi publicada nas redes sociais:
Nota de Pesar
Publicado por Elias Menezes em Quinta-feira, 15 de outubro de 2020
A Família Menezes vem por meio desta nota publica externar o nosso profundo pesar pelo falecimento do...
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasiliera (COIAB) lamentou a perda da liderança indigena, que é também um dos fundadores da organzação.
"Amado Menezes Filho, Tuxaua Geral das aldeias Sateré-Mawé do Rio Andirá, no município de Barreirinha (Amazonas), tinha 64 anos e fez sua passagem no início da noite desta quinta-feira (15). Mais uma vítima da Covid-19, e da arbitrariedade do governo brasileiro em prestar atendimento adequado à saúde dos povos indígenas! Como um grande líder do seu povo, Amado estava na linha de frente do combate à Covid-19, inclusive, denunciando o fim das barreiras sanitárias e a estrutura precária do governo, que culminou no aumento de casos da doença na região do rio Andirá nos últimos meses. No dia 2 de junho, ele e outras lideranças da Terra Indígena Andirá Marau protocolaram uma Nota de Repúdio contra a retirada da equipe do DSEI Parintins da barreira sanitária montada em uma força-tarefa entre indígenas e órgãos públicos", diz parte da nota oficial da Coiab.
De acordo com o site Amazônia Real, o Distrito Sanitário Especial Indígena de Parintins (Dsei Parintins) registra 189 casos confirmados de covid-19 e sete óbitos em sua jurisdição. No entanto, o boletim, que é publicado pela Sesai não especifica as etinias e os territórios atingidos pelo coronavírus.
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