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Brasil produz 600 mil toneladas de óleo de palma, usado na indústria de alimentos e para fazer sabonete

SBT News conheceu plantação da Belem Bionergia Brasil, empresa paraense especializada na produção do óleo

Brasil produz 600 mil toneladas de óleo de palma, usado na indústria de alimentos e para fazer sabonete
O Brasil responde por menos de 1% da produção mundial de óleo de palma | Guilherme Resck/SBT News
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O Brasil produz cerca de 600 mil toneladas de óleo de palma (ou dendê) por ano e tem capacidade de expandir a área plantada de dendezeiro, como é popularmente conhecida a palmeira do qual é extraído, para 11 milhões de hectares. Atualmente, o país planta 220 mil hectares. Os dados foram citados pelo presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Óleo de Palma (Abrapalma) e do conselho da Belem Bionergia Brasil, Victor Almeida, durante apresentação a jornalistas em Tomé-Açu (PA) na última semana.

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Utilizado, por exemplo, na indústria de alimentos, cosméticos, higiene e limpeza, e biocombustíveis, este é o óleo vegetal mais consumido do mundo, superando o de soja e o de girassol. Considerando todos os óleos vegetais, são 212 milhões de toneladas de produção e consumo no mundo atualmente, e a palma representa cerca de 75 milhões a 80 milhões.

A Indonésia é o principal produtor do óleo de palma, respondendo por 59% da produção mundial. Na sequência aparecem Malásia (25%) e Tailândia (7%). A própria Indonésia, Índia e China são os principais consumidores.

O Brasil responde por menos de 1% da produção mundial. Além de produzir 600 mil toneladas ao ano, o país importa de 200 mil a 250 mil toneladas. "Nós temos potencial de expansão [de área plantada de dendezeiro] gigantesco. O grande problema é que o país nunca teve um plano estratégico, uma política pública para o setor", afirma Victor.

"Você tem um apoio estadual [no Pará], um incentivo de ICMS, mas nunca existiu uma política pública de financiamento para as empresas, de larga escala, para fomentar o crescimento do plantio. Então o crescimento varia muito com o preço da commodity [matéria-prima]", acrescenta. O Pará lidera a produção nacional de dendê, com 2,9 milhões de toneladas do fruto ao ano.

Victor explica que a produção de dendê no mundo está "muito limitada" à quantidade de chuva e à temperatura, de modo que a produção ocorre de 10º ao norte e ao sul da Linha do Equador. "Isso pega América Latina (Colômbia, Equador, Brasil), países africanos, como Gana e Nigéria, e os grandes produtores (Indonésia, Malásia e Tailândia)", salienta.

Ainda de acordo com ele, no Brasil, pelo atual Zoneamento Agroecológico, a palmeira, também chamada de palma de óleo, só pode ser plantada em áreas de pastagem degradas antes de 2008. E é considerando esse zoneamento que o país teria disponibilidade para expandir para 11 milhões de hectares de área plantada, que ficariam distribuídos principalmente por Pará, Amapá, Roraima e Bahia.

Dentre os óleos vegetais, palma é a mais produtiva por hectare | Guilherme Resck/SBT News
Dentre os óleos vegetais, palma é a mais produtiva por hectare | Guilherme Resck/SBT News

"A palmeira demora três anos para começar a produzir, e na verdade eu já começo a investir dois anos antes. Dois anos antes eu já tenho que preparar a área, comprar a semente, produzir a muda, plantar, e três anos depois ela começa a produzir num volume bem pequeno e só atinge o ponto de equilíbrio no quinto ano", ressalta Victor.

"Então para você começar a atingir o ponto de equilíbrio, ter alguma geração de caixa positiva, você teve oito anos de investimento. Sem uma política de juros e com carência, etc., é muito difícil de ter investimento privado apenas no setor".

Ainda segundo Victor, dentre os óleos vegetais, "a palma é a mais produtiva por hectare, você produz cinco toneladas de óleo, mais ou menos, e você emprega muito mais gente por hectare do que outros cultivos". "Na palma, a média que a gente usa é um funcionário para cada dez hectares"

O presidente da Abrapalma fez a apresentação no Polo Agroindustrial Tomé-Açu, da Belem Bionergia Brasil. Jornalistas do SBT News e de outros veículos visitaram o local como parte do curso "Programa Agronegócio em Perspectiva" — fruto de parceria entre a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) e a Fundação Dom Cabral.

Belem Bionergia Brasil

A empresa é especializada na produção de óleo de palma, óleo de palmiste (também extraído do dendê) e dos seus correspondentes refinados. Ela é dividida em dois polos agroindustriais: o de Tailândia (PA) e o de Tomé-Açu. Considerando os dois, são 38 mil hectares de plantio próprio de palma de óleo. Porém, a BBB tem mais 7 mil hectares de agricultura familiar; são 553 famílias financiadas pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) às quais a empresa dá todo o apoio técnico para produção de dendê e das quais compra 100% da produção. De 5 a 10% da produção da Belem Bionergia Brasil vem dessas famílias.

"Além do plantio, a gente tem duas unidades extratoras e uma refinaria. A unidade extratora é que transforma fruto em óleo, e a refinaria pega o óleo bruto e transforma em óleo refinado. As unidades extratoras ficam em Tailândia e Tomé-Açu", explica Victor. A refinaria fica no polo da primeira cidade.

No ano passado, a BBB faturou próximo de R$ 900 milhões, com R$ 270 milhões de Ebitda (lucro obtido antes da incidência de juros, depreciação, impostos e amortização). Em média, foram produzidos 26 toneladas de dendê por hectare. Este ano, por causa do fenômeno climático El Niño, que levou a secas no Norte e Nordeste, é esperada uma queda relevante de receita e Ebitda, pois a produtividade caiu cerca de 50%. Deve ficar em 17 toneladas.

Veículos com braços mecânicos (garras), com um operador, recolhem cachos de dendê em plantações da BBB | Guilherme Resck/SBT News
Veículos com braços mecânicos (garras), com um operador, recolhem cachos de dendê em plantações da BBB | Guilherme Resck/SBT News

Victor ressalta também que os agricultores familiares parceiros da empresa têm plantios que estão no seu pico de vida produtiva, e a renda média desses trabalhadores está em torno de R$ 6 mil a R$ 8 mil, enquanto a renda média local é de R$ 1,5 mil. "Então é um programa que realmente traz uma qualidade de vida. É uma agricultura familiar que funciona, não é aquele negócio só para subsistência", pontua.

Vinte técnicos agrícolas da empresa acompanham quinzenalmente as 553 famílias, para ver se há algum problema fitossanitário e se estão fazendo a adubação correta, por exemplo. Além disso, a empresa compra o adubo para essas família junto ao dela e adianta para esses produtores, descontando depois do valor da safra.

O preço da tonelada de dendê atualmente está em R$ 800,00. O óleo de palma é obtido da polpa do fruto, e o óleo de palmiste é extraído da amêndoa. "O de palmiste é mais caro é utilizado para coisas mais nobres; parte de cosmético principalmente e na parte alimentícia para fazer o que chamam de CBS, que é o substituto da manteiga de cacau", fala Victor.

Segundo ele, muitos alimentos que os brasileiros consomem pensando que é chocolate é, na verdade, "palmiste com gosto de chocolate". Espremendo a amêndoa da fruta, obtêm-se também um farelo, usado para alimentação bovina. Dessa forma, a BBB também vende farelo para alimentação bovina.

A nível Brasil, quase 90% do consumo do óleo de palma é do mercado alimentício. "Qualquer indústria de massas, biscoitos, bolos, etc., utilizam. Qualquer indústria que tenha recheios específicos, gorduras especiais, normalmente vai utilizar alguma coisa de palma", pontua o presidente do conselho da empresa.

Segundo ele, a indústria de alimentos usa o óleo de palma para misturar com outros e conseguir fazer uma gordura especial que derrete na boca, a 35 ou 36ºC, mas não na gôndola a 30ºC.

Produção e colheita

A Belem Bionergia Brasil tem 1.800 pessoas trabalhando apenas no corte dos cachos de dendê. Elas são responsáveis por analisar se os cachos estão maduros, observando a coloração e/ou se há frutos soltos, e retirá-los das palmeiras. Se for colhido quando estiver verde, obtêm-se um óleo de alta qualidade, mas pouca quantidade. Já se for colhido quando estiver maduro demais, obtêm-se muito óleo, mas ácido.

Toda a atividade de corte é manual, pois não existe uma máquina para colher o fruto, como ocorre com a soja e outras culturas. São utilizadas ferramentas para cortar. Os cachos ficam próximo das folhas mais baixas da palmeira. Apenas quando já foram retirados das árvores e estão no solo, veículos com braços mecânicos (garras), com um operador, passam para recolhê-los; nos plantios mais novos, são recolhidos de forma manual também, por não compensar a utilização do veículo. Os cachos recolhidos são levados para caminhões, que fazem o transporte para as unidades extratoras.

Os trabalhadores que atuam no corte vão para as plantações uniformizados e também, por exemplo, com botas reforçadas para proteger de picadas de cobra, espinhos e corte de ferramenta; boné árabe, para proteger dos raios solares e insetos; e garrafa térmica — em média, cada trabalhador consome de cinco a sete litros de água por dia, por causa do esforço físico. As fazendas que compõe os polos têm pontos de suporte com bebedouros.

Cacho de dendê pode ter diferentes pesos | Guilherme Resck/SBT News
Cacho de dendê pode ter diferentes pesos | Guilherme Resck/SBT News

Há supervisores e fiscais nas fazendas também. Eles se comunicam por um sistema de rádio, já que não há sinal de internet e telefone. "Qualquer ocorrência de acidente, a gente faz atendimento de primeiros socorros, nosso fiscais são treinados para dar esse pré-atendimento, e, se for um atendimento mais grave, a gente pede a nossa ambulância, leva para as unidades de saúde mais próxima que temos", fala Vanilton Pantoja, coordenador agrícola na atividade da palma de óleo na BBB.

Os ciclos de corte ocorrem a cada 15 dias, ou seja, o cortador volta a uma mesma palmeira depois desse período. A colheita é realizada de janeiro a janeiro, de segunda-feira a sábado. As palmeiras precisam de bastante chuva e sol.

"Se você tem boa fertilização, sol o dia todo e água, obtém uma qualidade de um cacho bem produtivo. A Belem Bioenergia plantou várias espécies de dendê. A gente tem espécie que tem mais produção na safra e outra com maior produção na entressafra. Equilibramos para sempre termos as indústrias com fruto", ressalta Vanilton.

A BBB faz controle biológico de pragas em suas plantações | Guilherme Resck/SBT News
A BBB faz controle biológico de pragas em suas plantações | Guilherme Resck/SBT News

A palma de óleo tem inflorescências masculina e feminina; um besouro faz a polinização de ambas, e assim inicia o processo reprodutivo do cacho. "O cacho começa a formar há 32 meses. Quando nasce uma flor feminina, até se formar um cacho maduro demora, em média, cinco meses e meio", explica o coordenador agrícola.

O peso do cacho de dendê varia conforme a idade da palmeira, podendo chegar a 30 kg. Já a cultura de dendê em si passa de 25 anos de produção. De acordo com Vanilton, em uma palmeira de 20 a 25 anos, a colheita do cacho requer uma ferramenta com até 12 a 15 metros de cumprimento.

"Hoje, a minha média de produção está entre 250 a 300 cachos por homem por dia. Com essa altura [12 a 15], ele chega a 30, a 35 cachos por homem por dia. Porque tem uma dificuldade maior. E outro impacto, mesmo você mantendo o seu ciclo, é a queda [do cacho da palmeira]", pontua.

Quando o trabalhador corta o cacho, ele cai em direção ao chão. Se a queda for de 15 metros, o desprendimento de dendê dele é maior, trazendo maior risco de acidente ao cortador.

"Então o custo de colheita fica muito alto e às vezes não fica viável, aí é preciso renovar [a plantação]", salienta Vanilton. Em relação às pragas que atacam as palmeiras, a BBB faz controle biológico, que inclui o uso de armadilhas com feromônios e melaço para atrair mariposas e besouros.

Fabricação de sabonetes

Uma das empresas que utiliza o óleo de palma na fabricação de produtos é a Natura, que atua no setor de cosméticos. No caso, a substância vai na massa base dos seus sabonetes em barra.

A empresa fabrica esses sabonetes no chamado Ecoparque, que fica em Benevides (PA). Jornalistas do SBT News e de outros veículos visitaram a fábrica na última semana também, como parte do curso "Programa Agronegócio em Perspectiva".

Atualmente, são produzidos cerca de 180 toneladas por dia de massa base no local. Ela costuma levar 85% de óleo de palma e 15% de soda cáustica. O principal fornecedor do óleo para a empresa é a Agropalma, que fica na cidade paraense de Tailândia. A fábrica da Natura utiliza cerca de 4 mil toneladas por mês da substância. No ano passado, a empresa produziu 505 milhões de unidades de sabonetes.

Em parceria com a Cooperativa Agrícola de Mista de Tomé-Açu (C.A.M.T.A) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Natura desenvolveu o chamado Sistema Agroflorestal (SAF) Dendê, em que o fruto é cultivado junto a outras plantas, imitando uma floresta. Já foram plantados 400 hectares de agrofloresta e o objetivo é alcançar 45 mil hectares até o final de 2035. Segundo a empresa do setor de cosméticos, o SAF Dendê é resultado de "13 anos de pesquisa e inovação em busca de uma forma mais sustentável de produzir o óleo de palma". O Sistema, ressalta, "apresenta-se como uma alternativa inovadora às tradicionais monoculturas, visando a mitigar seus impactos negativos". Diz ainda uma área cultivada pode render quase o dobro em comparação com a monocultura.

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