Crise do leite: importação do produto pelo Brasil é a maior em 20 anos
De janeiro a junho, o país comprou leite de outros países três vezes mais do que mesmo período de 2022
O produtor de leite brasileiro está sentindo os efeitos do aumento expressivo das importações do produto de países do Mercosul, uma verdadeira enxurrada. Dados da Embrapa Gado de Leite revelam que as importações de leite e derivados pelo Brasil de janeiro a junho de 2023 atingiram o maior volume em pelo menos 20 anos. Em relação ao mesmo período do ano passado, as importações estão quase três vezes maiores.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP),o leite importado está mais competitivo que o produzido no Brasil. Neste período do ano, época de entressafra, a tendência é que o preço do leite pago ao produtor brasileiro seja de alta. Porém, com o aumento das importações somado com o consumo mais fraco, as cotações estão em queda.
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O preço médio no Brasil do leite cru pago ao produtor em junho deste ano foi de R$2,55 por litro, de acordo com o Cepea, valor de 22% mais baixo do que o pago no mesmo período do ano passado, e que também está abaixo do valor em 2021.
Os produtores seguem preocupados com a disparada das importações. No início do mês, cerca de 1,8 mil produtores protestam nas ruas de Porto Xavier, no Rio Grande do Sul, cidade que faz fronteira com a Argentina. Segundo a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), a entrada de produtos dos países vizinhos com preços muito abaixo da produção nacional tem tornado as atividades praticamente inviáveis para a agricultura familiar brasileira. A entidade afirma que na Argentina, no Paraguai e no Uruguai o quilo do leite em pó varia entre R$ 18,09 e R$ 19,65, enquanto que no Brasil o quilo custa R$ 26,00.
Presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva reforça que outras mobilizações irão ocorrer nos próximos dias caso nenhuma medida seja anunciada pelo governo. "Estamos esperando os anúncios até o dia 15 de agosto. Caso contrário, a diretoria e o conselho de coordenadores(as) da Fetag deliberaram por retornar as mobilizações já no começo de setembro nas fronteiras com a Argentina e com o Uruguai, desta vez sem duração determinada".