Irmãos sírios no Brasil tentam salvar familiares drusos cercados na Síria
Família está isolada na província de Suwaida, sem luz, internet e acesso a medicamentos, em meio a perseguição política e religiosa
Flavia Travassos
Leonardo Ferreira
Familiares de refugiados no Brasil, de origem drusa, está impedida de sair da província de Suwaida, na Síria, cercada pelo Exército do país. Os irmãos Hamza e Majdy, que vivem como refugiados em território brasileiro há dez anos, não conseguem contato com os parentes.
"Não tem luz. Não tem internet. Não tem nada", relata Majdy. "Nós ficamos por quase três semanas, a cada minuto esperando uma notícia ruim."
Hamza conta que o pai sofre de diabetes e pressão alta, e que anos atrás chegou a ter paralisia de um lado do corpo.
"Ele se recuperou, graças a Deus. Mas precisa tomar remédios controlados. E, com esse sufoco, medicamento não entra nem sai."
Os drusos são uma etnia árabe que não se considera pertencente a nenhuma nação. Vivem, principalmente, entre o Líbano, Israel e Síria — país que há décadas enfrenta conflitos. Após a ditadura da família Assad, veio a guerra civil, que durou até o ano passado.
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Desde então, uma milícia — já considerada terrorista no passado — assumiu o poder. Embora reconhecido por países como os Estados Unidos, o grupo tem histórico de perseguir minorias, como os drusos.
"Eles representam para esses grupos que querem o poder na Síria uma ameaça. Há o medo de que também queiram estabelecer um próprio Estado", explica Karina Caladrin, professora de relações Internacionais do Ibmec.
Além do cenário político, há também o fator religioso. Os drusos seguem uma crença derivada do islamismo, mas com características próprias, o que aumenta a perseguição.
Pelo menos 700 mil drusos vivem hoje na Síria, a maioria concentrada na província de Suwaida, no sul do país, onde mora a família de Hamza e Majdy. Desde meados de julho, mais de mil pessoas já morreram nesse novo conflito.
A crise se intensificou com o envolvimento de Israel. Tel Aviv, que não aceita forças militares próximas à fronteira, também atua para proteger drusos — que, além da cidadania israelense, têm destaque na sociedade.
"Nós já tivemos no Brasil um embaixador de Israel que era druso", lembra a professora. Trata-se de Reda Mansour, entrevistado pela reportagem no mês passado, quando a equipe esteve em Israel e visitou a casa de uma família drusa. Naquele dia, o Exército israelense havia atacado alvos na capital da Síria.
"Não podemos aceitar um grupo jihadista, com extremismo, ao lado da fronteira no norte", afirmou Mansour.
Os irmãos sírios já enviaram ao Itamaraty uma lista com cem nomes de pessoas que precisam ser trazidas ao Brasil. Em nota ao SBT, o Ministério das Relações Exteriores informou que presta assistência por meio da embaixada em Damasco, mas, por lei, não pode fornecer detalhes.