Exportação de micro e pequenas empresas cresce com oportunidades criadas por guerra tarifária
Empresários brasileiros aproveitam cenário internacional para levar produtos a mais de 12 países e gerar empregos
SBT Brasil
Atualmente, não chega nem a 0,1% o percentual de micro e pequenos empreendedores brasileiros que exportam produtos. Mas, com a guerra tarifária entre China e Estados Unidos, boas oportunidades têm surgido para mudar esse cenário.
+ Lula critica "vácuo de liderança" global e defende papel do Brics na solução de conflitos
Há um ano e meio, a empresária Vanessa Holmo recebeu um ultimato do filho. Depois de 15 anos como consultora de negócios, Marco Antonio queria que a mãe criasse uma marca própria.
“Nós resolvemos não vender no Brasil porque, se a gente vendesse no Brasil, as pessoas iriam colocar na internet com preço baixo. Eu achei que eu fosse parar aos 60, imagina, acho que vou parar aos 80, porque a nova geração, com meu filho aqui, está trazendo informação de como lidar com a IA", conta a empreendedora
Hoje, a empresa deles exporta, em média, 4 toneladas por mês de cosméticos para 12 países, como Emirados Árabes, Estados Unidos e Chile. No Brasil, o negócio gera mais de 300 empregos diretos e indiretos.
“Sem equipe, sem dinheiro, tivemos que pegar um empréstimo para começar. Hoje se paga por si só e estamos muito felizes com o resultado", explica o filho.
Dos 21 milhões de negócios de empreendedores individuais, micro e pequenos, apenas 11 mil exportam produtos, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Por isso, o Sebrae, em parceria com uma empresa de logística, lançou uma consultoria gratuita para quem quiser aprender os caminhos das vendas para o exterior.
“A gente tem 300 mil pequenos negócios que teriam potencial para exportar. Até uma questão de precificação também, tem seguro, uma série de envolvidos que muitas vezes uma consultoria vai ajudar a resolver", relata Roberta Aviz, coordenadora de negócios internacionais do Sebrae.
Os micro e pequenos negócios representam 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional — que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Em valores, o contraste com as grandes empresas é evidente: foram 310 bilhões de dólares exportados no último ano contra 2,6 bilhões de dólares dos pequenos negócios.
Em Louveira, no interior de São Paulo, uma fábrica de farofa de mandioca temperada existe há nove anos, tem 25 funcionários e se prepara para expandir os negócios além do mercado interno. Em julho, duas toneladas de farofa e de um açaí criado especialmente para exportação devem embarcar para a Arábia Saudita.
A dona, Renata Farhat, largou a advocacia para transformar a receita de farinha da avó em negócio:
“Produto 100% voltado para a exportação. O açaí já é um produto bastante reconhecido internacionalmente, mas a gente veio com açaí com grande diferencial: não precisa de nenhuma refrigeração.”
Agora ela projeta um crescimento de até 15% no faturamento da empresa por causa das exportações.
“A gente tem sentido, este ano, que realmente a exportação está com cenário bastante favorável. Acredito que seja por conta das taxas de importação em vários países e o Brasil acabou se beneficiando e ficou um pouco mais competitivo", conta Farhat.