Blindagem de veículos cresce no Brasil em meio a casos de violência armada
Procura por carros blindados aumenta após crimes com uso de fuzis e sentimento de insegurança

Flavia Travassos
Se os tiros de um revólver já causam estragos, imagine os de um fuzil. Foi essa a arma usada no assassinato do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes, no litoral paulista, nesta semana. Os criminosos usaram pelo menos dois fuzis na execução.
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A vítima já tinha sido ferida a poucos metros do local, quando o veículo foi atingido pelos primeiros disparos. O ex-delegado possuía um carro blindado, mas não estava com ele no momento do ataque. A dúvida que fica é: se estivesse, o desfecho poderia ter sido diferente?
Segundo Marcelo Silva, presidente da Associação Brasileira de Blindagem, a resposta não é simples. “Sem dúvida nenhuma, um disparo, quando encontra qualquer obstáculo, desvia o projétil. A velocidade diminui e o poder de perfuração também. Possivelmente o trauma poderia ser menor, mas é muito difícil calcular isso.”
Isso porque a blindagem mais comum não resiste a tiros de fuzil.
“Os veículos blindados no Brasil, em sua maioria, obedecem a uma regulamentação do Exército. A autorização dada ao cidadão vai até o nível III-A, que significa proteção contra armas curtas, como revólveres, pistolas e até submetralhadoras”, explica Silva.
Cresce a procura por carros blindados
O aumento da violência e o sentimento de insegurança impulsionaram as vendas de veículos blindados no Brasil. Nos seis primeiros meses deste ano, 22.425 carros receberam blindagem no país. O número representa alta de 11,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram blindados 20.090 veículos.
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Em uma empresa na capital paulista, cerca de 50 carros são blindados por mês, e há ainda uma fila de espera de 40 veículos. Todos recebem a blindagem convencional, autorizada para uso de pessoas comuns.
No caso do atentado contra o ex-delegado de São Paulo, apenas a blindagem de nível superior, duas vezes mais resistente, poderia ter garantido sua proteção.
“O vidro blindado que fazemos aqui tem dois dedos de espessura. Já o veículo blindado contra fuzil teria isso de espessura. Estamos falando de um nível de proteção contra outro muito mais robusto”, explica o empresário Rafael Martins.
Restrição e custo elevado
Esse tipo de blindagem reforçada é permitido apenas em veículos usados por agentes de segurança ou pessoas que comprovem a necessidade.
“É preciso enviar ao Exército uma justificativa prévia dos motivos que justificam o investimento nesse tipo de blindagem. Além disso, o custo é alto: a partir de 300 mil reais”, detalha Martins.
Enquanto poucas pessoas têm acesso a esse recurso, o medo da violência é uma realidade sentida pela maioria da população.