Panorama
O correspondente do SBT na Argentina traz seu ponto de vista sobre os principais assuntos que movimentam a América Latina.
Venezuela: O Brasil vai perder a paciência?
Sinais do governo são cada vez mais cautelosos em relação a Nicolás Maduro
Há pouco mais de um ano, Lula recebeu o presidente venezuelano com pompa e circunstância no Palácio do Planalto. Pagou um preço político alto por isso. Continuava a se engajar com Maduro numa diplomacia discreta para tentar influenciar o futuro de uma Venezuela, quem sabe, mais democrática.
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Depois, o Brasil teve um papel-chave no acordo de Barbados. Era o compromisso entre governo e oposição para a realização de eleições livres e com ampla participação popular. Uma virada de página que poderia acabar com o embargo ao país e pavimentar um caminho para a prosperidade.
Desde a celebração do acordo em outubro do ano passado, Maduro foi acusado de violar várias cláusulas. A começar por manter a favorita María Corina Machado inabilitada para a disputa. Sem explicação convincente, também proibiu Corina Yoris. Lula escorçou aí a primeira reclamação.
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O desconhecido Edmundo González acabou o escolhido para representar o principal bloco oposicionista. Sem carisma, talvez tenha sido visto como um candidato fácil de ser derrotado.
A campanha seguiu de maneira desigual, com Maduro dominando os espaços públicos e o tempo de televisão, denúncias de prisões de opositores e uma retórica do medo, de que só o oficialismo poderia garantir a paz, que havia o risco de um "banho de sangue" se o resultado não fosse uma ampla vitória de Maduro.
Foi daí que veio a fala mais forte de Lula. O presidente brasileiro disse que se assustou e que numa eleição só pode haver banho de votos. Como resposta, Maduro falou num comício que quem estivesse assustado deveria tomar chá de camomila.
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Chegou a eleição e o assessor internacional da presidência, Celso Amorim, foi bem recebido em Caracas como observador do processo. Boas-vindas que políticos e ex-presidentes de outros países não tiveram.
O Conselho Nacional Eleitoral declarou Maduro vencedor da eleição com 51,2% dos votos contra 44,2 de González.
A oposição não engoliu o resultado. Disse que não pôde ter fiscais em boa parte das seções eleitorais e que, onde conseguiu ver os boletins de urna, González venceu de forma ampla.
Rússia e China se apressaram em parabenizar Maduro pelo triunfo. O Brasil se juntou a países como Colômbia e Estados Unidos e diz que espera a divulgação dos resultados detalhados antes de se manifestar.
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Se a Venezuela queria voltar à normalidade internacional, deixar de apresentar de forma transparente a votação em cada urna não vai ajudar a convencer seus detratores. Pior, pode fazer perder alguns aliados importantes, aumentando cada vez mais a dependência de russos e chineses.
Celso Amorim disse à imprensa nesta sexta-feira uma frase enigmática, de que é "amigo de César, mas mais amigo da verdade". e que 'fica difícil' reconhecer a vitória de Maduro sem ter as atas verificadas.
Estaria acabando a paciência com o vizinho?