Cientistas conseguem transformar plástico em paracetamol; entenda
Estudo inédito no Reino Unido desenvolveu bactérias capazes de reciclar plástico de garrafas PET produzindo analgésico

Duda Ventura
Um novo estudo publicado na revista científica Nature Chemistry, nesta segunda-feira (23), mostra que pesquisadores conseguiram transformar plástico em paracetamol, um dos analgésicos mais usados no mundo.
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Os testes, desenvolvidos por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, usaram uma versão geneticamente modificada da bactéria E. coli para converter moléculas derivadas do polietileno tereftalato, o plástico usado em garrafas PET, no princípio ativo.
O processo mais tradicional de produção de paracetamol utiliza derivados do petróleo e libera resíduos contaminantes. O novo método, baseado em um processo de fermentação, semelhante ao usado na fabricação de cerveja, é uma alternativa mais sustentável: acontece em temperatura ambiente, em menos de 24 horas e com praticamente nenhuma emissão de carbono.
O mundo produz mais de 350 milhões de toneladas de resíduos PET por ano e grande parte acaba em aterros sanitários ou oceanos. Segundo o Censo da Reciclagem do PET no Brasil, divulgado pela Associação Brasileira da Indústria do PET (ABIPET), somente no ano passado, foram recicladas 410 mil toneladas de embalagens no país.
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O professor Stephen Wallace, presidente do Departamento de Biotecnologia Química da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Edimburgo, que liderou a descoberta sobre a nova forma de produzir o paracetamol, reforça a necessidade de diversificar o destino do material reciclável. "Este trabalho demonstra que o PET não é apenas um resíduo destinado a se tornar mais plástico – ele pode ser transformado por microrganismos em novos produtos valiosos, incluindo aqueles com potencial para tratar doenças."
A pesquisa foi financiada pelo prêmio EPSRC CASE e pela empresa biofarmacêutica AstraZeneca. "A biologia da engenharia oferece um imenso potencial para interromper nossa dependência de combustíveis fósseis, construir uma economia circular e criar produtos químicos e materiais sustentáveis", diz Ian Hatch, chefe de desenvolvimento de negócios da Edinburgh Innovations para a Faculdade de Ciências e Engenharia.
Apesar de promissora, a transformação ainda é possível apenas em pequena escala. Segundo a equipe responsável, é necessário "mais desenvolvimento antes que ele possa ser produzido em níveis comerciais".
*Estagiária sob supervisão de Letícia Sorg