Vacina contra câncer? Entenda como funciona novo imunizante russo
Recentemente, a Rússia anunciou o lançamento de uma vacina contra o câncer baseada em RNA mensageiro (mRNA); entenda como funciona
Brazil Health
O câncer é atualmente uma das principais causas de mortalidade global e, com as projeções atuais, pode se tornar o maior responsável por mortes no mundo.
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Além disso, muitos cânceres causam sintomas e debilidade significativos, representando um grande desafio para a saúde mundial. Muitas pesquisas estão sendo realizadas no mundo todo, buscando alternativas para o combate ao câncer, combinando o aprimoramento do conhecimento sobre a biologia da doença com novas tecnologias.
Dentre as possibilidades mais promissoras para o combate ao câncer está o uso da imunoterapia, e, dentro desse grupo, uma classe de grande destaque são as vacinas contra o câncer.
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Basicamente, os tumores são compostos por um conjunto de células do próprio organismo que sofrem alterações genéticas (como mutações), conferindo-lhes uma elevada capacidade de crescimento. Essas mesmas alterações podem fazer com que os tumores passem a apresentar proteínas ou outros componentes que funcionam como “estranhos” (antígenos) ao organismo, permitindo que o sistema imunológico combata diretamente essas células cancerígenas. As vacinas poderiam atuar apresentando adequadamente esses antígenos ao organismo, permitindo que ele aprenda a combater os tumores de forma mais eficiente e duradoura.
Como funciona nova vacina russa contra o câncer?
O uso de vacinas para o combate ao câncer não é algo novo, e muitas pesquisas foram desenvolvidas nas últimas décadas com diferentes tipos de vacinas para diversos tipos de câncer. Inúmeros estudos foram feitos utilizando desde componentes virais até proteínas e fragmentos de tumor, injetados diretamente nos pacientes. Infelizmente, os casos de sucesso terapêutico foram muito raros nessas ocasiões.
Recentemente, a Rússia anunciou o lançamento de uma vacina contra o câncer baseada em RNA mensageiro (mRNA), que seria utilizada sem custo para determinados pacientes russos com câncer. Poucas informações detalhadas foram divulgadas, mas sabe-se que a vacina utiliza inteligência artificial para criar um tratamento personalizado, baseado no sequenciamento genético do tumor de cada paciente. Ou seja, não se trata de uma vacina preventiva, destinada a pessoas saudáveis, mas sim de um tratamento individualizado para pacientes já diagnosticados com câncer.
Há, de fato, muito entusiasmo com essa tecnologia no desenvolvimento de vacinas contra o câncer. Diversos laboratórios ao redor do mundo já realizam estudos clínicos com vacinas de mRNA em pacientes. A tecnologia atual permite que o mRNA personalizado seja administrado sem ser rapidamente degradado pelo organismo, algo que no passado era uma preocupação importante. Esse mRNA, ao ser inserido no corpo, leva à produção de proteínas capazes de instruir o sistema imunológico a combater o câncer.
No caso do possível imunizante russo, muitas dúvidas permanecem, justamente pela falta de informações apresentadas. Normalmente, avanços dessa magnitude são detalhadamente descritos, com metodologia e resultados claros, em congressos científicos e publicados em revistas científicas revisadas por pares. Isso permite que a comunidade científica entenda o processo, discuta suas aplicações e, se necessário, critique a abordagem.
No entanto, não se sabe em que fase de pesquisa o imunizante russo se encontra, quais tipos de tumores estão sendo estudados e se já há resultados iniciais divulgados. Assim, espera-se que, juntamente com outras pesquisas sobre vacinas de mRNA, realizadas de forma criteriosa em diferentes partes do mundo, o uso dessa tecnologia traga importantes conquistas no combate ao câncer e sua disponibilização para uso rotineiro nos próximos anos.
*Denis Jardim é head regional de Oncologia da Brazil Health credenciado pelo CRM/SP: 124.598