Por que o intestino funciona como um "segundo cérebro" em nosso corpo?
Intestino tem capacidade de influenciar diversas funções corporais, incluindo o humor e o comportamento; entenda

Brazil Health
O intestino é frequentemente denominado como o "segundo cérebro" por sua complexa rede de neurônios que compõem o sistema nervoso entérico (SNE). Essa denominação destaca a autonomia funcional do SNE e sua capacidade de influenciar diversas funções corporais, incluindo o humor e o comportamento.
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Sistema nervoso entérico: O SNE é composto por aproximadamente 400 a 600 milhões de neurônios, distribuídos ao longo de todo o trato gastrointestinal. Esses neurônios estão organizados em dois principais plexos: o plexo mioentérico (ou de Auerbach), localizado entre as camadas musculares longitudinal e circular, responsável pelo controle da motilidade gastrointestinal; e o plexo submucoso (ou de Meissner), situado na submucosa, que regula as secreções e o fluxo sanguíneo local. Essa complexa rede neuronal permite que o SNE opere de maneira autônoma, coordenando reflexos e atividades digestivas, independentemente do sistema nervoso central (SNC).
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Comunicação bidirecional: A interação entre o intestino e o cérebro ocorre através do chamado eixo intestino-cérebro, uma via de comunicação bidirecional que envolve mecanismos neurais, hormonais e imunológicos. O nervo vago desempenha um papel crucial nesse eixo, transmitindo informações sensoriais do trato gastrointestinal para o SNC e modulando respostas autonômicas que afetam a função intestinal. Além disso, a microbiota intestinal - o conjunto de micro-organismos que habitam o intestino - influencia diretamente esse eixo, produzindo neurotransmissores e modulando respostas inflamatórias que podem impactar o funcionamento cerebral.
Importância da saúde intestinal: O intestino abriga uma complexa comunidade de micro-organismos, conhecida como microbiota intestinal, que desempenha funções vitais, incluindo: Digestão e absorção de nutrientes: auxilia na quebra de alimentos e na absorção eficiente de nutrientes essenciais; Regulação do sistema imunológico: cerca de 70% do sistema imunológico está localizado no trato gastrointestinal, onde a microbiota ajuda a modular respostas imunológicas; Produção de substâncias benéficas: sintetiza vitaminas e neurotransmissores que influenciam o humor e a cognição; Proteção contra patógenos: compete com micro-organismos nocivos, prevenindo infecções.
Influência no humor e comportamento: Estudos recentes têm demonstrado que alterações na microbiota intestinal podem estar associadas a distúrbios neuropsiquiátricos, como depressão e ansiedade. A produção de neurotransmissores pela microbiota, como a serotonina - da qual cerca de 90% é sintetizada no intestino - sugere uma ligação direta entre a saúde intestinal e o bem-estar mental. Intervenções que visam modular a composição da microbiota, como o uso de probióticos, têm mostrado potencial terapêutico na redução de sintomas depressivos, reforçando a importância do intestino na regulação do humor.
Como manter a saúde do intestino?
Dieta rica em fibras: consuma frutas, vegetais, grãos integrais e leguminosas, que alimentam as bactérias benéficas e facilitam o trânsito intestinal;
Ingestão de probióticos e prebióticos: inclua alimentos fermentados, como iogurte e kefir, e alimentos ricos em fibras solúveis, como alcachofras e aveia, para apoiar a microbiota saudável;
Hidratação adequada: beba água suficiente diariamente para auxiliar na digestão e na manutenção da mucosa intestinal;
Prática regular de exercícios físicos: a atividade física regular contribui para a motilidade intestinal e o equilíbrio da microbiota;
Gestão do estresse: técnicas como meditação e yoga podem reduzir o estresse, que, quando crônico, pode afetar negativamente a saúde intestinal;
Sono de qualidade: durma adequadamente, pois o sono regula processos corporais que influenciam a saúde do intestino.
Sinais de alerta
Esteja atento aos seguintes sintomas, que podem indicar desequilíbrios intestinais:
Alterações persistentes no hábito intestinal: diarreia ou constipação prolongadas;
Dor ou desconforto abdominal: desconforto frequente ou intenso na região abdominal;
Inchaço ou flatulência excessiva: sensação constante de distensão abdominal ou gases em excesso;
Presença de sangue nas fezes: sangramento visível ou oculto nas evacuações;
Perda de peso inexplicável: emagrecimento sem motivo aparente.
Quando procurar ajuda?
Caso experimente algum dos sinais de alerta mencionados, é aconselhável buscar avaliação médica. Além disso, sintomas como febre alta, desidratação, diarreia prolongada ou presença de pus nas fezes requerem atenção imediata. Profissionais de saúde poderão realizar exames específicos para diagnosticar possíveis condições e orientar o tratamento adequado
A compreensão do intestino como um "segundo cérebro" enfatiza a importância de uma abordagem completa na medicina, reconhecendo a interdependência entre sistemas corporais. Manter a saúde intestinal, seja por meio de uma dieta equilibrada, uso adequado de probióticos ou manejo do estresse, pode ter repercussões positivas não apenas na digestão, mas também na saúde mental e no bem-estar geral.
* Antonio Couceiro Lopes é cirurgião do aparelho digestivo credenciado pelo CRM 100656 SP RQE 26013