"Perdi meus movimentos em segundos, sem acidente", diz jovem com condição rara; entenda
Diagnosticado com hematoma epidural cervical espontâneo, Pedro, de 24 anos, sentiu fortes dores na nuca e perdeu os movimentos do pescoço para baixo
Wagner Lauria Jr.
Uma em cada um milhão de pessoas pode ter o que paranaense Pedro Marques, de 24 anos, teve. Após sentir fortes dores na nuca e procurar o hospital, ele perdeu todos os movimentos do corpo, do pescoço para baixo, durante o atendimento. O diagnóstico: hematoma epidural cervical espontâneo, quando ocorre um sangramento entre a coluna e a medula espinhal (veja mais detalhes abaixo).
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Em abril de 2024, Pedro relatou dores no ombro. Ele procurou o hospital, foi medicado e liberado. Dois dias depois a dor chegou na nuca.
"Eu estava no shopping no dia, vivendo minha vida tranquilamente e, do nada, começou uma dor na nuca. Depois de sair de lá, fui para casa dos meus sogros com a minha namorada. Depois de um tempo, comecei a sentir muita dor, e aí meu sogro decidiu me levar ao hospital. Lá foi onde tudo aconteceu: estava tomando soro com remédio e, quando fui chamar a enfermeira, eu não senti mais meu corpo", recorda Pedro, sobre o momento em que caiu da cadeira e, em "segundos", passou a não sentir mais seus movimentos.
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Por que isso pode acontecer?
Esse sangramento comprime a medula espinhal, que é onde passa todas as estruturas de força e sensibilidade do corpo e, consequentemente, leva à perda do funcionamento da região. É o que aponta o neurologista Flavio Sekeff Salem.
Quando a condição não chega por traumas, ou seja, acidentes, as causas espontâneas podem ser muitas: uso de medicamentos anticoagulantes, doenças de coagulação (queda de plaquetas ou hemofilia), malformações vasculares - como malformação arteriovenosa (condição em que artérias e veias estão conectadas diretamente, sem passar pelos capilares), fistula dural medular (conexão anormal entre artérias e veias na medula espinhal) - ambas são congênitas, ou ainda, não ter uma sem causa definida.
A origem do sangramento de Pedro ainda é incerta, mas o médico que o acompanha acredita que se trate de um caso idiopático, ou seja, sem causa específica, o que reduz a chance de recorrência.
Como funciona o tratamento?
O tratamento de Pedro incluiu uma cirurgia para a remoção cirúrgica de 4,4 mililitros de sangue acumulado entre as vértebras cervicais C2 e C4, ambas localizadas no pescoço. Embora a quantidade de sangue fosse pequena, a região afetada é bastante sensível, o que agrava a condição.
Inicialmente, segundo Pedro, a suspeita foi de mielite transversa aguda, uma condição neurológica que consiste na inflamação da medula espinhal, geralmente relacionada a outras doenças, como esclerose múltipla, que também foi alvo de suspeita dos médicos. Completam a lista, a síndrome de Guillain-Barré, além de outras doenças autoimunes que paralisam o corpo.
Após a cirurgia, Pedro passou 85 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo nove deles em coma induzido para facilitar a respiração. Recentemente, ele tem mostrado sinais de recuperação, conseguindo mover os dedos e respirar sem ajuda de aparelhos, após seis meses utilizando respirador.
Para sua reabilitação, ele está passando por fisioterapia, além de neuromodulação transcraniana, que tem como objetivo estimular os movimentos pela estimulação dos neurônios e reativar as conexões do cérebro com a medula, e também pode ajudar em quadros de saúde mental, em casos de depressão, como aponta Sekeff.
"A depressão costuma acontecer nesses casos. Imagina: o garoto tinha autonomia, andava sozinho, de repente se torna imóvel, preso a uma cadeira, acaba ficando depressivo", pontua o neurologista.
Pedro relata que o tratamento, por enquanto, está sendo bem sucedido, uma vez que está recuperando parte da sensibilidade e movimento do corpo. Mas ele quer intensificar os cuidados. Para ajudar nos custos do tratamento, que segue sendo feito em casa e em centros de reabilitação, Pedro disponibilizou uma vaquinha virtual.
"Com a vaquinha, eu quero buscar fisioterapias intensivas e outros métodos de tratamento. Eu conheço tetraplégicos que fazem de 9 a 10 horas de fisioterapia por dia, e eu não chegou nem a um terço disso hoje. A pessoa que tem um quadro igual ao meu necessita de fisioterapia constante", ressalta.