Detectar Alzheimer pela saliva? Protocolo pode facilitar diagnóstico precoce da doença
Teste simples tem o potencial de revolucionar a detecção de Alzheimer, mas ainda não pode ser adotado; entenda
Wagner Lauria Jr.
Um protocolo com diretrizes para acelerar a adoção do exame de saliva como ferramenta de triagem para identificar o Alzheimer foi publicado pela Associação Internacional de Alzheimer, com base em um estudo divulgado na revista Alzheimer’s & Dementia.
+ 80% não conhecem sintomas iniciais de Alzheimer
No Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas enfrentam alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. O alerta é que, até 2050, o número de diagnósticos da doença ultrapasse 131 milhões, de acordo com a Associação.
Por que a saliva?
De acordo com a pesquisa, a saliva contém biomarcadores — elementos do corpo que podem ser utilizados para diagnosticar, prever e tratar doenças como Alzheimer, e cerca de 30% das proteínas presentes no sangue. O estudo também aponta que, quando realizados conforme os parâmetros estabelecidos, os testes de saliva apresentam uma sensibilidade diagnóstica de 71,4%.
Os participantes do levantamento foram divididos em dois grupos: aqueles que tinham ou não a doença.
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Indolor e de baixo custo, o teste tem o potencial de revolucionar a forma como o Alzheimer é detectado.
Atualmente, o diagnóstico confirmatório da doença é feito por meio de punção de líquido espinhal, procedimento que busca identificar as proteínas tóxicas associadas ao Alzheimer. No entanto, este exame é realizado apenas em estágios mais avançados da doença, devido à sua complexidade e alto custo.
Apesar do potencial promissor, o teste de saliva ainda está em fase de validação e não pode ser utilizado como protocolo diagnóstico definitivo por enquanto.
"Independentemente dos potenciais contextos futuros de uso, ou seja, testes em casa, cuidados primários ou seleção de ensaios, há uma necessidade de padronização e validação adicionais de biomarcadores de DA (glândulas) salivares, destacando a necessidade de mais pesquisas", conclui o estudo.
Sintomas iniciais de Alzheimer passam despercebidos
Você conhece o termo Comprometimento Cognitivo Leve (CCL)? A tendência é de que sua resposta seja não. Segundo o relatório Fatos e Números da Doença de Alzheimer, da Associação de Alzheimer, cerca de 80% dos norte-americanos não conhecem o sintoma.
Por outro lado, é difícil encontrar alguém que não tenha ouvido falar em Alzheimer. O que se sabe menos ainda é que as duas condições estão diretamente associadas e a primeira pode ser um sinal precoce da segunda.
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Isso é o que aponta uma publicação da Associação Americana de Alzheimer. Segundo o estudo, cerca de um terço das pessoas que apresentam um diagnóstico de CCL como um sintoma inicial da doença de Alzheimer evoluem para um quadro de demência em até cinco anos.
O Comprometimento Cognitivo Leve é caracterizado por mudanças sutis na memória e no fluxo do pensamento. Segundo o geriatra e superintendente em Medicina Preventiva da MedSênior Roni Chaim Mukamal, não conhecer os sintomas iniciais pode comprometer a qualidade de vida do paciente. “Quando não se conhecem os sintomas iniciais, se compromete o diagnóstico precoce, outra condição que possa ser revertida, e a avaliação da adoção de uma série de condutas capazes de evitar ou postergar o agravamento da doença''.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência, sendo a mais comum a Doença de Alzheimer, que atinge sete entre 10 indivíduos com demência em todo mundo.
Mas como saber se o esquecimento é natural, CCL ou Alzheimer?
Roni explica que algumas características da Doença de Alzheimer apresentam semelhanças com as mudanças que acontecem com o corpo humano com o avanço dos anos, e não caracterizam nenhum problema de saúde, sendo apenas consequências do envelhecimento.
No entanto, essas semelhanças podem causar confusão, atrasando a procura por um médico e o diagnóstico do Alzheimer. "Durante o envelhecimento, o idoso esquece nomes de artistas, ocasionalmente guarda coisas em lugares errados, apresenta alterações de humor devido a fatos concretos e eventualmente tem dificuldade para achar palavras", diz o médico.
Já quem tem a Doença de Alzheimer, esquece nomes de pessoas próximas, guarda coisas em lugares estranhos, tem súbitas alterações de humor sem motivo, não consegue lembrar palavras e faz substituições por outras sem sentido. Além disso, os pacientes apresentam perda de memória recente frequentemente, tornam-se repetitivos e esquecem compromissos, o que atrapalha a execução de tarefas.
A melhor forma de diferenciar os sintomas da Doença de Alzheimer do envelhecimento normal é prestar atenção na frequência dos esquecimentos e observar se eles atrapalham o dia a dia do idoso. “Muitas vezes, os familiares acham que a perda de memória é natural do envelhecimento e procuram o geriatra apenas quando ocorre algum fato mais marcante e grave, como episódios de agressividade ou quando o idoso se perde na rua”, diz.