Saúde

Depressão e ansiedade: quando o cirurgião fala disso, é cuidado, não culpa

Conversar sobre saúde emocional durante tratamento do aparelho digestivo melhora a adesão, reduz a dor e acelera a recuperação

Imagem da noticia Depressão e ansiedade: quando o cirurgião fala disso, é cuidado, não culpa
depressão

Pacientes do aparelho digestivo frequentemente convivem com dor crônica, alterações do hábito intestinal, refluxo e impactos funcionais. O sofrimento emocional pode intensificar sintomas e reduzir a adesão ao tratamento. Quando o cirurgião abre o tema da depressão e da ansiedade, ele não está acusando o paciente; está cuidando do conjunto corpo e mente, condição essencial para bons desfechos.

SBT News Logo

Siga o SBT News no Google Discover e fique por dentro das últimas notícias.

Siga no Google Discover

Doença, não fraqueza

A literatura atual descreve a depressão e os transtornos de ansiedade como condições médicas de etiologia biopsicossocial. Enquadrar esses quadros como "fraqueza" perpetua o estigma e aumenta as barreiras de acesso ao cuidado. A postura clínica deve ser validante: reconhecer o sofrimento como legítimo e tratável.

"Depressão e ansiedade são doenças. Não é fraqueza e não é culpa sua."

Por que falar disso na cirurgia do aparelho digestivo

O eixo intestino-cérebro mostra que o estresse e os estados emocionais modulam a percepção da dor, a motilidade e a sensibilidade visceral. No contexto perioperatório, o sofrimento emocional associa-se a pior experiência de dor e a menor adesão às recomendações. Portanto, trazer o assunto é uma medida de qualidade assistencial, não um julgamento pessoal.

Não é agressão; é cuidado

A linguagem e a atitude do médico têm impacto mensurável: abordagens sem estigma aumentam a procura por ajuda e reduzem o abandono. Dizer explicitamente "não é culpa sua" e "não é vergonha falar disso" reduz a defensividade, fortalece a aliança terapêutica e facilita decisões alinhadas aos valores do paciente.

"Falar não é vergonha; aqui é lugar seguro."

"Trazer este tema não é acusação. É preocupação e cuidado com você."

Porta de entrada: psiquiatria e psicoterapia

Os pilares do cuidado são a psiquiatria e a psicoterapia. Revisões e diretrizes internacionais mostram taxas significativas de melhora e remissão com psicoterapias estruturadas e manejo especializado, quando indicado. O cirurgião não substitui esses profissionais; ele reconhece, legitima e encaminha, permanecendo como referência no cuidado digestivo.

"O caminho é com psiquiatria e psicoterapia. Com apoio, a melhora vem."

Escolhas de saúde que sustentam a melhora

Hábitos que protegem (sono regular, atividade física constante, rotina alimentar organizada, redução de álcool e tabaco) criam um terreno fisiológico favorável ao bem-estar e à recuperação digestiva. Não representam "cura pela vontade", mas alicerces que potencializam o tratamento especializado.

"Você não escolheu adoecer; pode escolher cuidar de si. Eu sigo com você."

Segurança

Qualquer menção a ideias de autoagressão requer encaminhamento imediato para avaliação de crise ou serviço de emergência e medidas de proteção do ambiente. Este texto é educacional e não substitui a avaliação individual.

Mensagem prática

Quando o cirurgião traz depressão e ansiedade para a conversa, ele não está acusando o paciente; está cuidando. Doenças tratáveis merecem respeito clínico, falar sem vergonha e acesso ao cuidado certo. Com apoio profissional e escolhas de saúde, a recuperação é possível e o tratamento digestivo evolui melhor.

Dr. Antonio Couceiro Lopes - CRM/SP 100.656 | RQE 26013

Cirurgião do Aparelho Digestivo

Membro da Brazil Health

Referências

· Thornicroft G, et al. The Lancet Commission on ending stigma and discrimination in mental health. Lancet. 2022;400(10361):1438-80. doi:10.1016/S0140-6736(22)01470-2.

· NICE. Depression in adults: treatment and management (NG222). London: National Institute for Health and Care Excellence; 2022. PMID: 35977056.

· World Health Organization. mhGAP guideline update 2023: mental, neurological and substance use disorders. Geneva: WHO; 2023.

· Cuijpers P, Karyotaki E, Reijnders M, Purgato M, Barbui C. Psychotherapies for depression: an umbrella meta-analysis. World Psychiatry. 2021;20(2):275-96. doi:10.1002/wps.20860.

· Bandelow B, Michaelis S, Wedekind D. Treatment of anxiety disorders: a meta-analysis. Int Clin Psychopharmacol. 2015;30(4):183-92. doi:10.1097/YIC.0000000000000078.

· Mayer EA. The gut-brain axis and the microbiome. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2015;12(8):473-86. doi:10.1038/nrgastro.2015.134.

· Corrigan PW, Morris SB, Michaels PJ, Rafacz JD, Rüsch N. Challenging the public stigma of mental illness: a meta-analysis. Psychiatr Serv. 2012;63(10):963-73. doi:10.1176/appi.ps.201100529.

· Zolnierek KBH, DiMatteo MR. Physician communication and patient adherence: a meta-analysis. Med Care. 2009;47(8):826-34. doi:10.1097/MLR.0b013e31819a5acc.

Aviso: conteúdo educacional; não substitui consulta individual. Em risco agudo (ideação/planejamento), procure emergência ou CVV 188 imediatamente.

Assuntos relacionados

Depressão
ansiedade
cirurgia

Últimas Notícias