Lula diz que “mulher não foi feita para apanhar”, diante de acusações ao filho
Durante lançamento de pedra fundamental para construção de Instituto Federal no Sol Nascente, presidente também criticou Bolsonaro
Raphael Felice
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a violência contra a mulher e o papel do homem na divisão de tarefas domésticas durante um discurso, nesta quinta-feira (11). A crítica do presidente ocorre em meio a acusações de que um dos filhos de Lula, Luís Cláudio Lula da Silva, teria agredido a ex-mulher.
A declaração do chefe do poder Executivo foi feita durante a inauguração da pedra fundamental do Instituto Federal de Brasília no Sol Nascente, Região Administrativa localizada na periferia do Distrito Federal. No local, é onde está localizada a maior favela do Brasil em número de domicílios (32 mil), também chamada de Sol Nascente.
“Nesse país existe muita violência contra a mulher, violência dentro de casa porque muitas vezes os maridos não respeitam as mulheres”, disse.
Não é a primeira vez que Lula faz acenos ao público feminino. No restante do discurso, o presidente repete falas que já havia feito em outros eventos. No Sol Nascente, ele reafirmou que enquanto as mulheres aprenderam a ir para o mercado de trabalho, os homens não aprenderam a ajudar em tarefas domésticas.
“A mulher não quer ser tratada como objetivo de cama e mesa. A mulher não quer ser tratada para lavar banheiro, lavar cozinha, lavar louça, fazer almoço, fazer janta, levar criança na escola, lavar roupa. A mulher aprendeu a ir para o mercado de trabalho e nós homens não aprendemos a ir para cozinha, para o tanque. Temos que repartir o trabalho com nossas companheiras”, disse
“Que história o homem ficar no sofá com a ‘bermudona’: amor, me traz uma cerveja, me traz uma batatinha frita, está pronto almoço? Já preparou a criançada para ir para escola? Você lavou minha roupa, amor? Ah, toma vergonha! Levanta e vai ajudar a lavar e passar. Senão, a gente não constrói um mundo decente”, acrescentou o presidente.
Lula também fez elogios ao ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, que foi o interventor na Segurança Pública do Distrito Federal após os ataques golpistas de 8 de janeiro. Ele também afirmou que o brasileiro “aprendeu a gostar de democracia”, após anos de governos autoritários na história do Brasil.
“Capelli foi famoso aqui em Brasília quando houve uma tentativa de golpe, quem foi cuidar foi o Capelli para enfrentar alguns militares que não queriam cumprir decisões judiciais, queriam desrespeitar. O Capelli veio aqui e reuniu quem era sério, quem prestava e arrumou a casa. Hoje os golpistas estão sendo processados, alguns estão sendo presos”, disse.
“Esse país aprendeu a gostar de democracia. A democracia é o único regime no mundo que permite que um peão de fábrica seja presidente da República. É o único regime que permite o povo protestar, fazer greve, o povo reivindicar salário, que as comunidades possam ir a frente do Palácio (do Planalto) reivindicar coisas para o presidente. Se não for democracia tudo piora. Ela é boa porque se a gente coloca um cara e ele não prestar, a gente tira o cara e elege outro cara. É isso que é maravilhoso”, acrescentou.
Lula também alfinetou o ex-presidente Jair Bolsonaro ao dizer que quando saiu da presidência, passou a faixa para Dilma, enquanto o antecessor “saiu pelos fundos”.
Instituto Federal
O chefe do poder Executivo lançou, nesta quinta-feira (11), a pedra fundamental do campus Sol Nascente do Instituto Federal de Brasília. A unidade integra o plano de expansão dos institutos federais via Novo PAC. O investimento previsto é de R$ 2,5 bilhões para construção de 100 novos campi pelo Brasil, com a meta de gerar 140 mil novas vagas de educação profissional.
Além do IFB no Sol Nascente, o governo também fará um campi em Sobradinho. O anúncio acontece em meio a greves em quase 300 campi de Institutos Federais e também em campi de universidades. A paralisação começou no dia 3 de abril.
Os novos campi de institutos federais vão atender regiões que ainda não possuem unidades ou que registram número baixo de matrículas em cursos técnicos de nível médio em relação à população da região. No Distrito Federal serão duas novas unidades: além de Sol Nascente, haverá uma em Sobradinho.
Cada nova escola tem custo estimado de R$ 25 milhões, com R$ 15 milhões em infraestrutura e R$ 10 milhões para equipamentos e mobiliário. Quando estiverem concluídas, a expectativa é de que gerem, cada uma, 1.400 vagas, majoritariamente de cursos técnicos integrados ao ensino médio.