Julgamento sobre tentativa de golpe pode ser marco para democracia, diz ministro Barroso
Em evento no Rio, presidente do STF disse que é possível "enterrar o passado" de quem acha que pode mudar as regras após derrota nas urnas

com informações da Reuters
O julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado, previsto para começar nesta terça-feira (02), no STF (Supremo Tribunal Federal), pode ser um marco para a democracia brasileira, disse nesta segunda-feira o presidente da corte, ministro Luís Roberto Barroso.
A Primeira Turma do Supremo, que não tem Barroso entre seus membros, reservou oito sessões para o julgamento do chamado núcleo principal da tentativa de golpe. Entre os réus desse núcleo está o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta que o núcleo comandou uma organização criminosa para manter Bolsonaro no poder mesmo depois dele ter sido derrotado na eleição presidencial de 2022 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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Em evento no Rio de Janeiro nesta segunda, Barroso disse que o Brasil precisa "enterrar o passado" daqueles que acham que podem mudar as regras e levar a bola para casa após uma derrota nas urnas.
"Acho (que pode ser um marco para democracia brasileira). Não posso fazer julgamentos, até por que não participo. Penso que a História do Brasil sempre foi de golpes e contra-golpes e tentativa de quebra da legalidade constitucional. Se se comprovar que houve a tentativa de golpe, acho que é muito importante julgar, porque é como encerrar o ciclo de atrasos do país", disse o presidente do Supremo.
"Essa ideia de que quem perdeu (eleições) tenta levar a bola pra casa e mudar as regras é um passado que nós precisamos enterrar", disse.
Bolsonaro está em prisão domiciliar após o relator do caso na Primeira Turma, ministro Alexandre de Moraes, considerar que ele violou medidas cautelares.
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Sanções
O processo contra Bolsonaro é a principal justificativa citada pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a imposição de uma tarifa comercial de 50% sobre produtos brasileiros e aplicação de sanções a autoridades brasileiras. Há especulações de que novas medidas possam ser impostas ao Brasil pelos EUA a depender do andamento do julgamento de Bolsonaro.
"O julgamento precisa ser feito com absoluta serenidade e cumprindo a Constituição e a legislação, sem interferências, venha de onde vier", disse Barroso sobre a possibilidade de anúncio de novas sanções.
Sem citar o grupo ligado a Bolsonaro, Barroso afirmou que a polarização política sempre existiu no Brasil, mas o problema é a "intolerância e o extremismo".
"A única coisa que me preocupa é o extremismo e não as visões diferentes, mas acho que em breve vamos empurrar o extremismo para a margem da história", avaliou.