Itamaraty convoca embaixada dos EUA após Trump defender Bolsonaro
Em janeiro, diplomato havia sido chamado para explicar o uso de algemas em brasileiros deportados pelos EUA
Paola Cuenca
O Ministério das Relações Exteriores convocou nesta quarta-feira (9) o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos após a embaixada americana manifestar apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e reproduzir falas do ex-presidente Donald Trump.
A reunião foi realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Não houve divulgação do conteúdo do encontro. A convocação ocorreu após a embaixada americana divulgar nota afirmando que Bolsonaro e sua família são “fortes parceiros dos Estados Unidos” e que a “perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil”.
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Desde a saída da última embaixadora, os Estados Unidos ainda não nomearam um novo embaixador para o Brasil. A missão americana é chefiada interinamente por Gabriel Escobar, encarregado de negócios e consulados.
Essa foi a segunda vez, em 2025, que o governo brasileiro convocou Escobar. Em janeiro, ele foi chamado para explicar o uso de algemas em brasileiros deportados pelos Estados Unidos.
Convocações desse tipo são vistas no meio diplomático como sinal claro de descontentamento por parte do país anfitrião.
Para o professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), as recentes manifestações dos Estados Unidos indicam possível interferência nos rumos políticos do Brasil.
“Donald Trump está antecipando o ano de 2026 no Brasil. Os Estados Unidos poderão ter um ativismo mais intenso no processo eleitoral brasileiro. Essa postura faz parte de uma política agressiva e da tentativa de consolidar alianças com a extrema direita na América Latina”, afirmou.
Declaração polêmica de Janja
Após o encontro com o presidente da Indonésia, também no Itamaraty, o presidente Lula não respondeu a perguntas da imprensa. Ao ser questionado sobre uma possível retaliação comercial por parte dos EUA, quem reagiu foi a primeira-dama Janja da Silva.
“Que… vira-latas”, disse Janja, ao ouvir uma pergunta sobre as ameaças de tarifas feitas por Trump.
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A fala gerou repercussão. Em nota, a assessoria da primeira-dama afirmou que a expressão foi direcionada a bolsonaristas. No entanto, no momento da declaração, não havia apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro no local, apenas jornalistas.