Roubo de caminhões cresce em SP e alimenta mercado milionário de peças ilegais na internet
Uma média de seis caminhões são roubados ou furtados por dia no estado; maioria das peças acaba em desmanches clandestinos
Aline Galdino
Bruno Laforé
Majô Gondim
A cada quatro horas, um caminhão é roubado ou furtado no estado de São Paulo. Na internet, a venda de peças transformou esse tipo de crime em um negócio milionário. Segundo especialistas, oito em cada dez equipamentos comercializados on-line são ilegais.
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Seis décadas atrás do volante
“Criei família, tudo, adquiri alguma coisa, desde julho de 1958, até alguns anos atrás, quando eu não pude mais dirigir por causa da visão”, relembra Guido de Arruda, aposentado.
Como já não podia mais dirigir, ele contratou um motorista para conduzir o caminhão. Há pouco mais de duas semanas, o principal sustento da família foi furtado. Em cerca de cinco minutos, dois homens levaram o veículo que estava estacionado na rua. “Tem hora que você começa a querer chorar, infelizmente”.
O caso dele é mais comum do que parece. Entre janeiro e março deste ano, 550 caminhões foram roubados ou furtados no estado de São Paulo. Isso representa uma média de seis ocorrências por dia — uma a cada quatro horas. Os dados são da própria Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, obtidos pelo jornalismo do SBT.
Internet
A maioria desses veículos vai parar em desmanches clandestinos. As peças são vendidas ilegalmente pela internet. Basta digitar “peça usada de caminhão” para que, em segundos, apareçam diversas opções.
Um estudo da Associação Brasileira de Rastreabilidade e Proteção de Peças (ABIRPP) aponta que oito em cada dez equipamentos vendidos on-line são provenientes de roubo.
“Quando um caminhão de R$ 800 mil é roubado, na verdade, foram roubados perto de R$ 2 milhões em peças”, explica Sinval Pereira, presidente da Associação.
"Vacina"
Os criminosos apagam os números do chassi e do motor, o que facilita a comercialização ilegal. Segundo a associação, a solução está na identificação de todas as peças do veículo, numa iniciativa conhecida como “vacina”.
“Um caminhão com uma vacina contra roubo tem 300 sinais identificadores. Conclusão: isso impossibilita que essas peças sejam revendidas no mercado legal”, afirma Sinval.
No caso do seu Guido, os criminosos conseguiram desligar o rastreador. Até agora, a polícia não tem pista dos ladrões.
A Secretaria da Segurança informou que os roubos e furtos de veículos no estado caíram 3,5% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
A pasta destacou ainda que a polícia tem utilizado tecnologia e inteligência na identificação de receptadores, além de ações direcionadas ao combate de desmanches clandestinos e à comercialização ilegal de peças de veículos roubados.
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