56 pessoas foram vítimas de bala perdida em 2024 no RJ, diz pesquisa
Das vítimas, 16 morreram e 40 ficaram feridas; esta semana foi o recorde de balas perdidas no período: 8 pessoas foram atingidas e 4 morreram
Desde o início do ano, 56 pessoas foram vítimas de balas perdidas na região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo o Instituto Fogo Cruzado. Dessas, 16 morreram e 40 ficaram feridas. Esta semana foi o recorde de balas perdidas no período: 8 pessoas foram atingidas e 4 morreram.
Segundo um estudo da Universidade Federal Fluminense, em parceria com o Instituto Fogo Cruzado, o maior número de tiroteios ocorre em áreas dominadas pelo tráfico, enquanto em regiões de milícia, esse índice é de pouco mais de 60%.
Outro dado revelado pela pesquisa é que nos últimos sete anos, quase metade dos conflitos tiveram atuação da polícia. No entanto, o número de confrontos entre policiais e traficantes é bem maior que o enfrentamento de milicianos: 40,2% polícia x traficantes e 4,3% polícia x milícia.
Para o coordenador da pesquisa, essa guerra urbana fere e mata de forma indiscriminada. "É um nível de violência tão desenfreado que não tem um público-alvo. Você tem uma sociedade refém que pode ser vítima a qualquer momento, em qualquer lugar”, diz Carlos Nhanga, coordenador do Instituto Fogo Cruzado/RJ.
Uma das vítimas fatais desse confronto armado foi Quetilene Soares Souza, de 35 anos. Ela morreu nesta quinta-feira (20), quando voltava do trabalho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Quetilene foi atingida durante uma troca de tiros entre policiais e criminosos. O corpo dela foi enterrado neste sábado, no cemitério de Magé.
"Por que esse policial não pensou antes de atirar? Por que que ele saiu atirando, sabendo que qualquer munição daquela pode ceifar uma vida? Agora eu estou sofrendo, eu estou sem chão, não sei nem o que é que eu faço, por onde eu começo”, desabafa Gilvan de Freitas Martins, marido da vítima.
No dia 18, outra ação policial e mais duas vítimas. PMs tentaram evitar um assalto, na Linha Amarela, e houve confronto. Deborah Vilas Boas, de vinte e sete anos, estava em um ponto de ônibus e foi atingida por um tiro. Outro disparo acertou José Carlos da Silva, de sessenta e quatro anos, dentro de um ônibus que passava pelo local. Os dois morreram.
Para o pesquisador, a falta de preparo da polícia é um ponto em comum em muitos casos. "Você não pode simplesmente reagir porque o protocolo manda reagir sem levar em consideração o contexto em que você está inserido. Então, seja nas ações de patrulhamento, seja nas operações, é preciso levar em consideração o que o contexto pede”, complementa Carlos.
Influenciador morre baleado
Um jovem de 22 anos morreu após ser atingido por uma bala perdida na noite desta sexta-feira (21), na comunidade da Muzema, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Moradores afirmam que ele foi atingido durante uma operação policial.
De acordo com testemunhas, Mateus da Silva Ferreira foi morto durante uma ação do BOPE - a tropa de elite da PM. Os agentes dizem que foram atacados por bandidos e reagiram. Fuzis e drogas foram apreendidos.
Josefa Severino interrompeu o tratamento de câncer, na Paraíba, para vir ao Rio de Janeiro se despedir do filho, que não via desde o Natal. "O meu coração está despedaçado, porque eu perdi meu filho agora e tem dois meses que perdi meu sobrinho. Meu filho foi alvejado covardemente pelas costas, porque o tiro pegou pelas costas”, diz a mãe de Mateus.
O jovem trabalhava como influenciador e completou 22 anos no último dia 19. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Um suspeito também morreu.
O primo, Bruno da Silva, diz que Mateus não tinha envolvimento com o crime. "Tinha um monte de gente na rua ainda, eles saíram de dentro da casa atirando nos bandidos, e meu primo tinha descido para buscar uma encomenda da namorada dele. Aí quando ele estava retornando, acertaram um tiro nele, no portão”, revela. “O que vai acontecer agora provavelmente é nada, porque é só estatística e o Estado não quer saber. Ele vai ser só mais um, e a família que sofre”, complementa.