RJ: Polícia refaz passos de suspeito de sequestrar advogada
Anic Herdy teria caído em emboscada armada por Lourival Fadiga, que ligou dezenas de vezes para filhos e amante no dia do desaparecimento
A Polícia Civil refez os passos do homem apontado como mentor do desaparecimento da advogada Anic Herdy, de 55 anos, no Rio de Janeiro. Lourival Fadiga, conhecido como “Gordo”, teria se aproveitado da condição da suposta amante para atrair a vítima a uma emboscada.
A família de Anic chegou a pagar R$ 4,6 milhões pelo resgate, mas o paradeiro da sequestrada é desconhecido. A Polícia Federal também vai entrar no caso, por suspeita de lavagem de dinheiro.
O início do relacionamento com Benjamin
Uma foto mostra a última viagem de Anic, em um parque aquático de Balneário Camboriú (SC). Antes de desaparecer, ela já planejava uma nova viagem com o marido, o empresário Benjamin Herdy, de 78 anos, herdeiro de um complexo educacional. Em 2021, a família vendeu a UniGranrio por R$ 700 milhões.
Anic e Benjamin se conheceram na universidade, quando ela era secretária do centro de ensino e estão juntos há 20 anos, com uma filha. Benjamin é sócio de outras duas empresas: uma do ramo imobiliário e outra, um hotel fazenda. Em 2016, ele abriu uma sociedade com a companheira, em uma empresa de treinamento e desenvolvimento profissional em Teresópolis.
Pagamento de resgate em transferências e dinheiro vivo
Após ser vista pela última vez em um shopping de Petrópolis, em 29 de fevereiro, Anic deixou o carro estacionado e saiu pela entrada principal. Depois, teria entrado em outro veículo de cor preta e desapareceu. Ela teria sido vítima da emboscada armada por Lourival, considerado de confiança da família, por ter trabalhado por três anos na casa da advogada. Lourival se dizia policial federal e cuidava da segurança do casal. Era ele que dirigia o carro preto.
A investigação aponta que Lourival tinha várias amantes, incluindo Anic. Horas depois de entrar no carro, Benjamin recebeu uma mensagem afirmando que a advogada foi sequestrada, além do pedido de resgate milionário.
Cerca de R$ 3,4 milhões foram pagos em 40 transferências bancárias e R$ 680 mil dado em dinheiro para Lourival, que disse que entregaria a quanta a bandidos em uma comunidade na zona oeste do Rio. Segundo as investigações, porém, Fadiga pegou a quantia e gastou comprando um carro de R$ 500 mil e uma moto de R$ 30 mil.
Os depósitos foram feitos entre 6 e 8 de março, para 31 destinatários, entre pessoas físicas e empresas, em cinco estados (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Paraná) e no Paraguai. Com isso, a Polícia Federal vai entrar no caso, em uma investigação paralela por lavagem de dinheiro.
Lourival fez dezenas de ligações para filhos e amante no dia do desaparecimento
Mesmo após o pagamento, Anic não apareceu. A família recebeu uma mensagem do celular dela dizendo que teria fugido do país com um amante, que seria policial civil. A filha desconfiou e procurou a polícia.
"A polícia acredita que essas mensagens não vieram na Anic. Acho que é mais uma trama do Lourival para dizer ‘olha: eu recebi o dinheiro, fica quieto que eu fui embora, que eu sumi, desapareci com uma outra pessoa’. E aí a família ia seguir a vida, não ia falar nada com a polícia. Lourival ia continuar dentro da família conseguindo monitorar todos os fatos e quiçá conseguindo pegar mais dinheiro’, afirmou a delegada Cristiana Bento.
Lourival foi preso em 20 de março, a caminho da casa da amante Rebecca Azevedo dos Santos. Dias depois, a filha de Lourival, Maria Luiza Vieira e o filho dele, Henrique Vieira, além de Rebeca, também foram presos. A denúncia do Ministério Público aponta que todos agiram juntos no crime. No dia do desaparecimento de Anic, Lourival fez dez ligações para cada filho e ligou para Rebeca outras 17 vezes.
Maria e Rebeca assumiram a negociação de 950 celulares comprados por Lourival com o dinheiro do resgate. Os aparelhos foram colocados à venda em lojas pertencentes à família do suspeito, segundo a denúncia.
“Grande ambição, frio e articuloso”
O MP crê que Anic foi assassinada pelo grupo, tendo o corpo ocultado. A Polícia Civil abriu um novo inquérito para localizar a advogada. O disque-denúncia divulgou um cartas com o desaparecimento da mulher.
“O Lourival foi nutrido de uma grande ambição, achando que não seria punido praticou esse crime. É um homem muito frio, muito articuloso. Posso dizer de uma forma leiga, psicopata. A forma como ele lidava de estar no seio de uma família que fazia tudo por ele, que ajudava financeiramente e ele faz um crime bárbaro como esse. Ele acabou com essa família”, finalizou a delegada.