Exclusivo: Veja desmanche de veículos em SP; saiba quais são os carros preferidos dos criminosos
Reportagem do Primeiro Impacto revela detalhes de como funcionam os desmanches de veículos na capital paulista, os bairros mais visados e as ações da polícia
O Primeiro Impacto investigou durante dias a rota dos desmanches de veículos na cidade de São Paulo. Nossa equipe identificou os bairros mais atacados pelos criminosos, os tipos de veículos preferidos e o destino final dos carros roubados.
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Em uma das incursões, os produtores entraram em um "cemitério de peças". No local, encontramos carros queimados e uma movimentação suspeita. Houve correria e ao menos duas pessoas se esconderam em uma área de mata. Essa reportagem especial é de Marco Pagetti, com produção de Cristian Mendes e André Paino.
9 milhões de carros e a "vassourinha"
São Paulo, a maior cidade do Brasil, abriga mais de nove milhões de veículos. Com uma frota tão grande, é inevitável que esses veículos atraiam a atenção de criminosos. O professor Daniel Correia teve seu carro furtado em agosto. Ele só percebeu o furto quando saiu da sala de aula e não encontrou o carro onde havia estacionado. "Eu olhei e pensei: ‘parei meu carro aqui, tenho certeza’. Apertei a chave para ver se bipava e nada. [Naquele momento] percebi que tinha sido furtado", relatou.
De janeiro a julho deste ano, mais de 24 mil carros foram furtados na capital paulista, superando os números do ano anterior. Isso representa uma média de 116 veículos furtados por dia, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP).
Os furtos de veículos ocorrem de maneira rápida, muitas vezes sem que as pessoas nas ruas percebam. De acordo com a Polícia Civil, as quadrilhas atuam de forma organizada, utilizando ferramentas tecnológicas que facilitam os crimes. Um dos equipamentos mais comuns é a "vassourinha", que detecta dispositivos de rastreamento ou eletrônicos dentro do veículo. Com essa ferramenta, os criminosos localizam e desativam rastreadores, dificultando a recuperação dos carros.
Em agosto, um chileno foi preso com um equipamento usado para interceptar o sinal de alarmes de veículos em estacionamentos de farmácias e outros estabelecimentos. Ele utilizava um rádio comunicador para bloquear o alarme no momento em que a vítima tentava travar o carro.
Desmanches, carros queimados e carcaças
Nossa equipe teve acesso a um desmanche clandestino na Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo. O local estava repleto de carcaças de carros, caminhões e até veículos públicos, que foram desmanchados e posteriormente queimados para evitar a identificação. Quando a equipe chegou ao local, os suspeitos fugiram para uma área de mata.
A prática comum entre os criminosos é desmontar o veículo, vender as peças no mercado ilegal e, quando não há mais o que aproveitar, queimar ou abandonar as carcaças em áreas desertas. Além disso, muitos veículos furtados são usados para outros crimes, como o transporte de drogas.
Segundo Rodrigo Bouti, diretor de operações da empresa de rastreamento SAT Company, os furtos são mais frequentes que os roubos, principalmente porque as leis para furtos são mais brandas. "Belo Horizonte e Curitiba são cidades e estados que concentram regiões metropolitanas densas. Por ser um crime mais ameno, o bandido não é pego e, se é pego, a polícia não consegue comprovar, pode mudar a versão e cair como receptação, que é afiançável e de pouca pena", explica.
Um estudo recente de uma consultoria de risco apontou que os bairros do Tatuapé, Ipiranga e Itaquera lideram os índices de furtos e roubos de veículos em São Paulo. Os criminosos preferem veículos populares, estacionados em vias públicas e geralmente durante a noite.
Carros são levados até o Paraguai
Com o auxílio de tecnologia de geolocalização, as forças de segurança e empresas de rastreamento têm conseguido responder de maneira mais rápida aos crimes. Um exemplo disso é o caso de um carro de luxo recuperado em uma rodovia de Santa Catarina, um dia após o furto, com a ajuda de um helicóptero da Polícia Militar. O criminoso tentava levar o veículo para o Paraguai para trocar as placas.
Em outro flagrante, em Minas Gerais, imagens de drone revelaram um terreno usado para armazenar veículos furtados. Um dos responsáveis pelo local era um agente penitenciário, que acabou sendo preso.
No caso das motos, os desmanches são ainda mais improvisados. Uma motocicleta roubada no Tatuapé foi encontrada horas depois em uma casa na Sapopemba, também na zona leste da cidade.
SSP e Detran-SP: órgãos oficiais se manifestam
A Secretaria da Segurança Pública informou que vem realizando operações contra infratores e que o número de roubos de veículos caiu 17% este ano, alcançando 7 mil ocorrências de janeiro a julho, o menor índice para o período desde 2001.
Em uma dessas operações, em Juquitiba, quatro pessoas foram presas desmontando uma caminhonete roubada. Já na zona leste da capital, um desmanche clandestino estava repleto de vários veículos já cortados para revenda. São lugares escondidos, usados por pouco tempo, onde é difícil identificar o volume de automóveis despedaçados.
Para Bouti, o problema começa no receptador, que compra as peças oriundas do crime, alimentando o comércio ilegal. "[Começa] no receptador e no comprador. Para as pessoas que compram peças no desmanche, achando que levam vantagem, de repente tem um rastreador instalado nela. E você, está lá no seu carro, é parado pela polícia, e vai ter que responder pelo crime", afirma o diretor.
Além disso, o Departamento de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) realizou, no período de janeiro a agosto, mais de 800 fiscalizações em comércios de peças, dos quais 53 foram lacrados. O órgão recomenda que os consumidores exijam nota fiscal ao comprar peças e verifiquem no site do Detran se o estabelecimento é credenciado.